domingo, 15 de agosto de 2010

Reticências

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-Tu já percebeu como as palavras perdem seus significados? Tava vendo lá o significado da palavra maracutáia; acredita-se - sim porque cada vez se tem menos certeza nessa vida... pelo menos isso – que mara é uma palavra de índio, que significa confusão. Aí, passados os quinhentos anos de desapropriação o sujeito mostra lá a reserva indígena e fala que pro índio é tudo mara. Se bem que nesse caso pode até ter muito significado pro índio, não com o nosso português, nessas gírias ai que faz muito gramático torcer o nariz, mas no significado tupi. Mas a partir daí ninguém mais se entende, porque pra cada um a palavra tem outro sentido. É como os ministérios do George Orwell, o ministério do amor cuidava para que as pessoas não se apaixonassem, o do pensamento que as pessoas não pensassem. Tava tudo mara? Em qual sentido?
Já penso nas conversas sobre o tempo? é uma não conversa de quem não quer dizer nada mas não suporta o constrangimento do silencio, ficar ao lado de alguém sem nada dizer, no entanto se fala e nada diz.
É, to querendo dizer que há muito tempo você nada diz, mas eu também não digo muita coisa, parecemos estar falando sobre o tempo ou coisas que tem outro significado. Não, não quero dizer nada com isso, só estive pensando, que tudo que dizemos são contrários do que fazemos, talvez o que queremos também sejam.
Não pense que quero culpar alguém, a culpa é de nossos medos, de nossas acomodações, da nossa incapacidade de estarmos dispostos a perder tudo, a desmontar tudo para começar tudo de novo. Cada vez se tem menos certeza das coisas e todas essas incertezas tem confundido o sentido das nossas palavras, das suas para mim e também das coisas que digo para você. Não, eu não minto, mas logo que digo, mudo de idéia. E você fica sem saber o que sou., por mais que eu não queira que seja assim... Você também tem mudado depois de dizer? Minhas palavras estão fazendo confusão? Estão sendo mara? Em qual sentido? Como não sabe? Você ta querendo me confundir? É eu sei, a minha cabeça ta uma confusão, talvez seja por falta de pratica.
Tenho pensado pouco, tenho que exercitar o pensamento. Essa confusão sobre o significado das minhas palavras tem me tirado o sono. Eu quero entender o que digo.
Tenho me sentido dentro dos ministérios do Orwell, na realidade criada por ele não tinha outra realidade, será que na nossa tem? Será que podemos voltar a amar e pensar? Temos que tomar cuidado com a policia do pensamento, com os apreciadores de iguarias cerebrais, não esquece do aviso do Raul... Cuba? Não, não quero beber, quero entender as mensagens das musicas, não das que temos ouvido, que são conversas sobre o tempo, mas das músicas que foram pensadas, precisamos procura-las, elas ainda estão por aí...
O que você esta procurando? Psiquiatra?! Ah não! Você não!!! Você tem de desistir do controle, preciso que você desista do controle... da TV?! Também! de achar que controla porque aperta o botão, todos os canais pertencem ao controle. Pare de falar um pouco e me escuta; tudo bem, não precisa pensar agora, achar por hora basta, a gente resolve isso com o tempo. É que é bom pensar na solidão, mas amar...
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por Adrins
pensante

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Over/doses

Over

doses


Sua mão sobre meu cabelo eriça todos os meus fios

Seu olhar, percebido pelos meus olhos ativa todo o meu ser

Uma dose muito pequena de você

Provoca

Esquecimentos

Encantamentos

Sentimentos

... mentos e mentóis.

O tomo em conta gotas

Em conta

Em gotas

E de gotas em gostas;

A sua mão sobre minha pele

Os seus olhos sobre meu ser

Perco-me nas medidas

Você sem medidas sobre mim

você sob mim...

É perigoso demais para a minha sanidade

É perigoso

saboroso

É!


por Adrins

sem contas

Gosto de um cachorro?!

Eu não gostava mais de cachorros, era o que parecia, era o que percebia em mim, dia após dia, com o passar do tempo... Eu olhava para o Toby pulando na janela, na porta, pedindo atenção, eu queria dar atenção, mas quando estendia a mão ele pulava e eu me irritava. Há muito tempo minha mãe conversava com minha vizinha - “ ela gosta tanto de bichos e quase morre pedindo um cachorro” minha vizinha diminuía meu desejo insano - “ depois ela cresce e perde o interesse” eu duvidava. Até a chegada do Toby.


Eu olhava para o Toby e o achava bonito, queria brincar com ele, ele aprendia truques com facilidade, mas eu não gostava do modo como ele pulava em cima de mim cada vez que eu abria a porta, a agitação dele perturbava meu sossego. Os latidos de madrugada não impediam meu sono, não era isso, eu só não sentia prazer em brincar com ele. E conclui que não gostava mais de cachorros.


Como nos conhecemos pouco, como nos entendemos pouco... Eu gosto de brincar com os cães dos meus amigos, não me irrito com acidentes em meus sapatos e roupas, mas não gostava de brincar com o Toby. Conclui que gosto de cachorros para ver de vez em quando, em alguns dias, mas que no meu canto era melhor ser só.


Fiquei do cuidar do Duque por duas semanas, as duas semanas já se passaram, continuo não tendo paciência para os acessos de euforia do Toby ao me ver, mas continuo gostando de brincar com o Duque. Ele pula, ele late, é um cão, não é muito diferente do Toby. Mas gosto de quando ele pula em mim, gosto de quando ele late, gosto dele no meu colo.


Sinto pelo Toby e pela vontade que tenho de brincar com o Duque dou a mesma atenção aos dois, mas eu gosto mesmo de brincar com o Duque. Já passaram as duas semanas, não quero que o Duque vá embora, vou sentir sua falta, um dia ele vai, posso prolongar algumas semanas nada mais. Quando ele se for continuarei a não ter paciência com o Toby, não é justo com ele ficar com alguém que não da atenção que ele merece, ele é um bom cachorro, é bonito, inteligente, adora brincar de pegar gravetos, sei que muitas pessoas seriam muito felizes com ele.


Talvez você seja... Se você quiser levar ele para casa, se você gostar de brincar com ele, ele merece alguém que goste dele como eu estou gostando do Duque. Estranho, eu pensei que gostava de cachorros eu cheguei a pensar que tinha deixado de gostar. Como a gente leva tempo... foi tempo pra eu entender, eu queria um cachorro, mas não qualquer cachorro. O Toby não é qualquer cachorro, mas pra mim é como se fosse. O Duque é um cachorro, mas pra mim não é só um cachorro. E eu tenho que respeitar esse meu gostar... Quando o Duque se for não ficarei com o Toby para ter um cachorro porque eu descobri que eu gosto de cachorros, mas não de todos os cachorros.


por Adrins

apaixonando-se