segunda-feira, 25 de junho de 2012

O instante à estante




Por um descuido eles caíram
Ficaram
Sentaram-se esperando suas capas.
Ele percebeu os pés balançando descalços
Ela percebeu os lábios cantarolando
Eles se olharam
Sorriram
Voltaram aos seus pensamentos.
As capas demoravam...
Ela começou a prestar atenção na canção dele
a embalar os pés no seu ritmo
Os pés lembravam a ele futebol
Ela disse que nunca foi torcedora
mas teve um time, quando era goleira dos meninos na educação física
porque pediam que ela dissesse
escolheu o rubro-negro por causa do conto do Drummond
por causa do refrão “até morrer” - ela gostava de convicções.
Ele respondeu que gostava das letras por causa do futebol
queria também ler
não só ver
gostava das letras por causa das músicas
queria também ler
não só ouvir
Ela disse que gostava de ver e ouvir
tudo ao seu redor
porque quanto mais lia mais curiosidade tinha sobre o mundo
Ele gosta de muitos mundos
Ela gosta de muitos mundos
Eles trocam versos e canções
Ele canta
Ela desafina
Riem
Observam outras capas
Ele conta o que descobriu
Ela os conhece ou quer conhecer
Balançam os pés no mesmo ritmo
Ela acompanhando o voo de um mosquito
Ele tocando em botões
Avistam suas capas
Ele é de ficção
Ela da fantasia


Eu, o peso de papel do outro lado da estante,
Penso no instante em que cada um volta para seu livro
Para as histórias que foram escritos
Penso para que o escritor me ouça
Para que eles se encontrem DENTRO de um livro
Uma história escrita para eles
E que vivam em um Romance.





por Adrins em leituras
 


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Eu, Rio!



- Geralmente quem faz isso é flamenguista.
Comenta o policial-motorista. Do banco de trás, eu e  ele observamos as pessoas da rua. Não olham para o carro da polícia, não olhamos para seus rostos.
Os dois policiais falam um pouco, mas não querem saber da mão dele, cortada pela garrafa. No quartel foram mais humanos, perguntaram como foi, ofereceram água para lavar o corte. Disseram que não podiam abandonar o posto. Ouvimos os policiais combinarem de nos deixar na delegacia e sair sem esperar sermos chamados,encerrando o pacote.
Duas horas no banco da 5° DP da Lapa, uma hora sentados no quartel da esquina do arco, quinze minutos na rua procurando um policial, menos de um minuto para o malandro cortar a mão do meu companheiro e levar a câmera com todas as nossas fotos de turistas apaixonados. A injustiça é rápida, a justiça tarda e é falha.
Ele olha para a mão dolorida e lembra-se da camisa do malandro; botafogo. Eu me lembro das pedras da reforma do arco da lapa, fotografadas. Das pedras do arco jogadas no malandro, com a mão machucada, pra soltar a mochila. Os policiais devem lembrar-se de muitos turistas que dão sopa, carteira, documentos...
As pessoas da rua também devem lembrar-se dos malandros ao caminharem invisíveis, sem atrativos para a torcida seja fla ou flu.
Drummond conteou que escapou da morte porque o homem que tentava degolá-lo era fluminense e ele, do fla não corrigiu o engano. "Que me tomem, mas deixem me viver..." Pergunto à razão se uma camisa nos salvaria e imagino a garrafa no pescoço.
O homem era negro. Seus antepassados trabalharam nas pedras para erguer o arco branco. Ele dorme nas pedras do arco e os dois lados continuam a existir: ouro nos telhados do grande teatro e ruínas nos asfaltos abaixo da escadaria. Passam carros, de músicos, a preços de salários de uma vida que ignoram as faixas de greve, dos que trabalham pela cultura, por salários de menos miséria. O pão de açúcar continua para inglês ver e ler, flamenguista que trabalha não ganha para a vista do pão/ loaf. Cari-oca.
O policial Livramento, que não é da Tropa de Elite, diz que bandido é protegido. O sargento, que policial é perseguido. Eu viajo na faixa de gaza.
Um negro em uma mercedes é malandro, ou toma ou canta o que lhe é de direito pela história.Um branco no asfalto é naufrago ou pesquisador, de outras terras. Há dizes e putas por territórios. Diz puta?! Retratos de Seu Jorge, violão matador de dragões nas paredes da rua. Decalques de São Jorge rasgando dragões de algodão e celulose na feirinha do mês – compre um e/ou leve o endereço do meu blog. Imagens na fotografia efêmera, eternizadas nos arquivos da memória.
Enfim o B.O. nós PE. "O que levaram?" "A câmera." "Só?!" As fotos subiram o moro, nós quase. E o Rio de Janeiro continua...

por Adri n s em retrospectiva