terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Isto não é um poema de natal

Os presentes já estao embalados
os doces organizados
os abraços vernizados
e os sorrisos polidos
para a famosa mais esperada data do ano
mas ainda me pergunto
será que as pessoas amariam o natal se nao fosse feriado?
eu deveria escrever sobre renovação e espírito natalino
vou guarda-los para mim este ano
porque quando toco nas pessoas parece que elas o disipam
de qualquer modo, feliz natal a todos os amigos
por me lembrarem do bom coração das pessoas
e a todos os inimigos por me daram a oportunidade de exercitar a tolerancia e a compaixão
E que todos possam viver muitos natais!!!

por Adri.n dispensando qualquer imagem que poderia provocar forte sentimento natalino somente por alguns segundos de observação...
mas cheia destes sentimentos a semana toda!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Jasmins

Gotas translúcidas
Pétalas brancas
O aroma que entra pela casa
E convida a sair
Para a vida

A vida me convida a cheirá-las
Chove chuva
Brilha sol
Tudo é vida, é perfume
E vivo, e cheiro


Ano longo
Flores efêmeras
Permanecem as folhas
A lembrar
E nas manhãs que não há perfume
Cheiro-as na memória

por Adri.n
em aromas

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Ritual do desapego

.
Doo palavras que já me foram mágicas
pelo que foram; não as profano.
O papel, ingênuo, aceita tudo que lhe é escrito
eterniza o que não mais existe:
a promessa do eterno dissipou-se,
a oferta de sabedoria esvaiu-se

Há palavras que precisam ser apagadas
pelo que elas foram, doo ao universo
já desgarradas de seus símbolos.

Há palavras que precisam ser transcritas
pelo que serão, não permito que se dissipem

Reinicio a busca por minhas próprias palavras
ainda emaranhadas com as outras...

por Adri.n
desvendando

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Guardo o que não pertence a mim.

°

Quando vir buscar estarei lá
as três da manhã,
numa quinta-feira,
debaixo da chuva...
.


Na ausência
continuará sendo seu
até pés o guiarem,
olhos se fecharem
e eu deixar de guardar.
.



por Adri.n
guardiã

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Riachos e mosquitos

**************************************

Há os que amam a natureza
Os que dizem que a amam
mas nunca passaram uma tarde no rio

Entre os que finalmente vão
E se incomodam com os mosquitos
Os que levam repelentes
Os que os toleram pela beleza do lugar
E os que só percebem suas picadas no retorno

Os que se chateiam com as marcas
E os que sorriem com a cocheira pela lembrança do lago
Os que se irritam por não ter sido como o sonhado

Os que retornam sempre
Os que não aparecem na época dos mosquitos
E os que dizem já conhecer
E que não voltam por causa de pequenas picadas.


por Adri.n
em riachos

sábado, 1 de novembro de 2008

Se apaixonar leva tempo

Para a fadinha pink:

Sou romântica.
Não pertenço ao período literário do lirismo e do pessimismo, não acredito em morrer de amor, em amor a primeira vista.

Mas sou romântica.
Não sonho com palavras doces, com serenatas ao cair da noite, com promessas e poemas apaixonados.

Insisto que sou romântica.
Desconfio do amor eterno, de ser a única a quem admirar, de ser dois em um, de adivinhar pensamentos.

Juro que sou romântica.
Porque acredito na confiança mutua, no encantamento que não se apaga com o tempo.

Sei que sou romântica.
Por confiar nos olhares de atenção e carinho, no toque, na admiração que nasce com o tempo.

Sou romântica.
Em desejar conhecer e viver com o outro pelo simples fato de respirar melhor ao lembra-se de sua existência.

Por Adri.n
Romântica

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Amor é como uma fênix,
Que se queima com seu próprio fogo
Para dar vida a novos pássaros em mente
vindos das cinzas do desejo.
Fulke Greville

- Deus permita que eu morra feliz...
Mas de que serve a felicidade sem alegria?
E eis que as cores estão mais vivas, no sol e na chuva.
O mundo se ilumina quando a felicidade e a alegria se encontram em um coração.
Deus, eu poderia morrer agora...

Mas não permita!

por Adri.n

vivendo

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Coisas de coração

*
Ele a beijou, como muitas vezes, e lhe disse eu te amo, pela primeira vez.
Ela ficou a espera e não compreendeu seu olhar de inquisição:
- Eu lhe disse que te amo.
- Eu ouvi.
- E você me ama?
O olhar dela o censurou ainda mais.
- Não vês, não sentes? Acha que não?
- Eu só queria ouvir de seus lábios.
- Isso nada significa, já parou para imaginar quantos eu te amo falsos o mundo ouve por dia? O único verdadeiro eu te amo é o gesto de carinho – e olhou no fundo de seus olhos - poesia é bom, mas há tão pouco que vem do coração
No outro dia ele lhe trouxe flores e ela as arrumou sem muito entusiasmo. No outro, bombons que ela quis dividir com ele e após a recusa os guardou no armário e a cada dia o olhar dela parecia mais apagado.
Enfim os amigos o aconselharam a dar o que nenhuma mulher resiste: jóias.
- Eis a grandiosidade do meu amor
- Achas que amor vale o preço de uma jóia?
- Não entendo por que não gosta de meus presentes.
- Não são os presentes, é claro que gosto deles, mas a forma como os trás. Amaria uma pedra juntada na frente de minha casa, se a desse com amor.
- Ora, deixa de fazer-se de difícil e diga o que quer que lhe darei com todo meu amor.
Os olhos dela encheram-se de lágrimas:
- Você acaba de apunhalar o meu amor...
E correu porta a fora, não atendeu mais seus telefonemas e ele ficou dias tentando imaginar qual era o presente que ela tanto queria.
Por fim irritou-se por ela ter falado por enigmas e saiu com os amigos para a balada, a procura de mulheres mais simples.

Por Adri.n
complicando?!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Filhos dos livres

.
Não houve nenhuma grande explosão, uma alteração de tempo um novo sentimento ao acordar, um pequeno vento por dentro... nada que prenunciasse.
Nem mesmo quando cruzaram os olhares, ou tomaram café, ou trocaram e-mails...nada!
Não houve nenhum derepente, nunca haveria.
Mas ainda assim passaram a se ver até não se separarem.
E brincaram e sorriram e viveram.
até, enfim, morrerem.


por Adri.n...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Dois mestres

" Ha que estudar, estudar e estudar.
O bom revolucionário precisa ser o mais próximo do perfeito.
Perfeito em casa, no trabalho, no partido, na vida" Che

Ela montou um teco-teco e pintou o símbolo da paz
Ele comprou aviões de guerra
Ela ensinou-o a abraçar e beijar
Ele mostrou-lhe golpes de boxe
Ela falava de amor e compreenção
Ele de leis e direitos
Ela sorria
Ele se calava
Ela perdoava
Ele desconfiava
Mas ainda há a esperança de que quando o menino cresça
torne-se mestre dele
e então consiga ensinar-lhe.

por Adri.n
amando e aprendendo

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Cientistas garantem a cura da ganância humana.

Para a professora,
que não conheço,
que criou a instigante notícia,
eis o que aconteceu com ela no meu mundo:

Esta fora a manchete, de capa, em letras garrafais. A descoberta cientifica que mais abalou o mundo, a maior polêmica de todos os tempos que apavorou mais governos que a guerra fria ou a grande depressão...
......................(cdb)..............

por Adrin
em fase de testes

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O que realmente me pertence:

.

Meus sorrisos, minha forma de encarar a vida meus aprendizados, minha alegria de viver. Meus sonhos, minhas realizações. Tudo que abrigo dentro de meu coração, que não pode ser tocado, mais sim sentido. No mais pertence ao mundo, a todos, no máximo a minha próxima geração. O que me pertence é o que posso carregar em meu peito, sem peso. No mais é tudo transitório, ou os deixo ir ou sou arrastada por eles - sem direção, sem liberdade, sem vida. E isso sim pode apagar meus sonhos, encobrir minha alegria, sufocar meus aprendizados e esquecer-me do que abriga tudo e do que me é mais caro: meu coração.

por Adri.n
sem nada e com tudo

Corre-tempo

Do ônibus viu uma amiga subir as escadas de seu prédio, parecia triste, quis gritar: - ei, sorria! Mas havia muitos motores e buzinas entre nós.

Do carro vi meu amigo descer do seu, quis acenar, mas a distância foi mais rápida.

Maldito tempo que se passa ao lado dos amigos sem poder trocar sorrisos.

por Adri.n sorrindo

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

@@

II

Quem sabe a ânsia de falar seja apenas a necessidade perdida de sentir...
O poeta procura o silêncio e o sentir em suas palavras.
Mas ambos nascem sem elas.

domingo, 21 de setembro de 2008

@

A lembrança do sabor
Dormir?
Há tanto o que sentir!!!

sábado, 6 de setembro de 2008

(Não) Desejos

*
Esfreguei a pequena lâmpada
pedi audacia, percistencia...

Para a magia funcionar
eu tinha de desejar com todo o meu coração

O gênio olhou em meus olhos:
impossivel realizar um pedido que vai contra o coração!

Meu coração sempre fora assim;
generoso com o mundo
e exigente comigo

por Adrin. espirito e coração

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O vento que toca a fada é o mesmo que toca a chuva


(Suzi, eis seu desafio escrito e postado aos tropeços, ainda em gestação, espero que sinta-se nele)


A fada e a chuva falavam a mesma língua
os problemas de hoje são sombras de felicidades futuras
a felicidade vem depois da sombra
a sombra parece triste e traz problemas só deixamos de olhá-la quando vemos a felicidade
a fada pensava sentada em sua rosa
e via na chuva as mesmas perguntas e respostas

Os seres não entendiam muito a chuva e
nao gostavam de ve-la com freqüencia
não compreendiam sua vida e achavam-na triste
mas a fada da rosa notou que muitas de suas lágrimas eram de alegria
e mesmo na tempestade ela dizia: a tristeza é a sombra que vemos antes da felicidade
é preciso chorar de tristeza para se sentir a verdadeira alegria

Os seres não gostavam de ficar tristes e procuram ocupar o tempo com tudo para que ela não viesse
mas a fada da rosa descobrira que era preciso senti-la para que a verdadeira felicidade entrasse
ou era tudo letargia
a chuva não tinha medo de sofrer
a fada não tinha vergonha de chorar

Um dia o vento passou e as duas subiram nele,
sem medo de onde ele iria leva-las e que interperies enfrentariam,
queriam conhecimento e que as quedas viessem
queriam conhecer a verdadeira felicidade mas não a almejavam com desespero
a encontrariam quando estivessem prontas

Assim sorriam porque o vento as tocava e sempre lhes provocava sorrisos.


por Adri.n
felling the wind yet

terça-feira, 26 de agosto de 2008

batalhas não perdidas

Me preparei para a batalha
com tudo que tinha
mas meus aliados nao vieram
nao vou lutar sozinha
retorno da não batalha
assoviando.

por Adri.n in peace
and feeling the wind in my hair

sábado, 23 de agosto de 2008

Sobre abelhas e homens

Uma abelha se afoga diante de mim, salvo-a. delicio-me ao vê-la voar. Alguns se deliciam em fazê-las picarem-se a si mesmas.
Penso em Deus
Será a desventura regida pela sorte do lugar que cairmos estar próximo de um Deus ou de um diabo?

por Adri.n abelhuda

Meninos e homens

Para minha nova fadinha das letras: Suzi


Era tradição mais alta da velha tribo o rito de passagem para maior idade. Os índios que chegavam a puberdade preparavam-se por meses observando e questionando os mais velhos a fim de aprender tudo sobre a floresta. Nenhum jovem índio era forçado a fazer seu caminho e esperava-se que eles entrassem na tenda do pajé e gritassem:

- ESTOU PRONTO!

Então se cantava o caminho percorrido dos mais antigos numa grande festa até a lua começar a descer do céu e o jovem partia com ela.
Pena-branca foi o ultimo dos jovens a cumprir seu ritual, e os mais críticos poderiam dizer que demorara demais. Mas os velhos índios compreendiam que cada um tinha seu tempo e não se devia apressá-lo.

Pena-branca partiu num dia de lua nova e esta, pouco iluminada, angustiava seu coração a cada passo que se distanciava do que conhecia. Teria que iniciar seu próprio aprendizado e o medo aumentava seus sentidos a ponto de ele perceber o movimento de cada ser da floresta. Mas ainda assim lhe era impossível perceber o movimento experiente e calculado de Enxerga-longe, seu pai, que o seguia.

Enxerga-longe havia feito a mesma solitária jornada na sua juventude. Não fazia parte da sábia tradição da tribo ele estar ali e ele sabia que não poderia interferir nas experiências de Pena-branca. Mas não pode suportar a angustia de ver seu filho totalmente só, então decidiu segui-lo ainda que só pudesse observá-lo. Se interferisse Pena-branca voltaria à aldeia como menino.

A cada caminho errado do jovem, Enxerga-longe se angustiava por não poder ajudá-lo. Mas compreendia que ainda que pudesse dar suas opiniões não era certo que Pena-branca as ouviria.

Na segunda lua Enxerga-longe percebeu uma grande mudança na atitude de Pena-branca. Ele não mais caminhava em linha reta, apressado. Mas parava para ouvir cada som e admirar cada folha que lhe era desconhecida e sentava-se diversas vezes como se refletisse qual caminho seguir. E com isso, seus erros eram menos freqüentes.

Na terceira lua Pena-branca tomou um caminho que Enxerga-longe angustiou-se por não conhecer e acreditar que não deveria tomar. Mas o caminho os levou a uma linda cascata cristalina. Pena branca tinha ouvido o que Enxerga-longe não percebeu e então o pai compreendeu que o filho superara o pai, como era o destino de todos os filhos, por seus próprios erros e acertos. Pena-branca não precisava mais dos mais velhos para guiá-lo ele já sabia caminhar sozinho e aprendera muito bem, já poderia até guiar seu velho pai a uma cascata que ele nunca descobrira. Pena–branca já era homem! E Enxerga-longe retornou para esperar a volta do filho.

Enxerga-longe não sabia o que Pena-branca aprendia e quais caminhos percorria nas luas seguintes. Mas não se angustiava mais, sabia que seu filho era agora um homem e confiava em sua sabedoria recém adquirida.
Pena-branca voltou para receber seu novo nome na terceira lua cheia após sua partida, com o rosto sereno e sorriso na face, Enxerga-longe correu ao seu encontrou e gritou:

- ESPÍRITO-PURO RETORNOU!

Pena-branca, agora Espírito-puro, maravilhou-se com a sabedoria do velho pai. Enxerga-longe tinha dado-lhe o nome de sua jornada. E ouve festa e comemoração e quando todos retornavam para suas ocas Enxerga-longe tomou as mãos de seu velho pai e com os olhos cheios d’água sussurrou:
- Agora compreende com sabias meu nome antes de eu contar de minha jornada, assim como eu o senhor também desafiou a tradição por amor a mim.
O velho homem sorriu:
- Não, a tradição não diz nada sobre vigiarmos nossos filhos. E não precisa, porque isso é uma lição que não precisa ser ensinada, ou descoberta, apesar de ser a ultima a ser percebida ela nos acompanha a vida toda: o que vem do amor não precisa ser ensinado, é pelo amor que todos os seres vivem, só por ele que existimos e através dele nunca erramos, mesmo quando nos parece que estamos errando. E você se tornou homem quando sentiu seu amor pela vida, Enxerga-longe. Ele já estava em você, e hoje precisávamos verbalizá-lo.

O que não precisou se verbalizado foi que Espírito-puro vira seu pai retornar da vigília e sentiu-se honrado, pela vigília e pela confiança, no momento certo, os melhores presentes que Enxerga-longe dera a Espírito-puro.

por Adri.n em jornada na floresta

domingo, 17 de agosto de 2008

Legado para meu filho

- Li uma crônica sobre a mecanização da felicidade, de colar mensagens estratégicas sobre a casa para lembrar-se de ser feliz (meu Deus eu tentei fazer isso, ainda bem que não consegui) e de não parar para se ouvir por medo de enfim compreender que não a conhece. Caso alguma depressão tome meu ser a ponto de eu tentar isso, registro o que já aprendi.-


Faça-se surdo sempre que suspeitar que aconselhem que você vai cair, muitos deles é despeito por terem medo da queda.

Desconfie de quem lhe disser eu te amo, mas não ter gestos de amor, mesmo os mais tímidos acabam libertando-o de algum modo. O amor é escorregadio demais para ficar preso.

Distancie-se de quem lhe aconselhar a aprisionar o choro. Deixe-o sair que assim o sofrimento parte.

Não condene aqueles que o fazem sofrer, isso só vai aumentar o seu sofrimento.

Ame tudo que seu coração pedir para amar, mas não o force a aceitar o que ele não simpatiza. O coração nunca erra, nós sim.

Encubra um pouco a sua beleza, física e interna, de desconhecidos. Há pessoas que sempre tentam se aproveitar dela.

Seja verdadeiro mesmo com quem não o é com você, para que você não se torne parte deles.

Ouça os bons livros, eles são ótimos mestres, mas não esqueça que também há livros ruins.

Ouça boa música e o canto dos pássaros com a mesma paixão.

Ame os dias de chuva, de frio e ventania, do tempo e de dentro de você. Sem eles você não seria o que é.

Não deixei de ouvir seu coração a favor dos mais experientes, do que diz a sociedade, a maioria das pessoas julgará muito pior que você.

Não se prenda em pessoas que não o fazem sorrir e fuja das pessoas que só o fazem rir.

Entenda que o mundo está em constante mudança e não tema em abandonar o seguro, o que já alcançou por algo totalmente novo e desconhecido, nunca se vê a paisagem antes de alcançar o topo da montanha, sabemos que ela existe, mas só conhecemos quando chegamos lá.

Nunca pare de caminhar, depois de admirar suas conquistas e aprendizados; continue...

Comece com cuidado, amor e paciência.

Não relute em voltar se o caminho se revelar falso, mas resista se ele for tortuoso, os novos aprendizados geralmente doem, mas têm de vir junto com a satisfação.

Mude de opinião nem que seja por minutos, para conhecer o outro lado.

Sinta o que os outros sentem, suas alegrias e suas tristezas. Receba a alegria como se fosse sua e ouça e afague a tristeza como gostaria que o fizessem com você.

A felicidade de um amigo é uma benção, comemore! A felicidade de um inimigo não tem o poder de apagar a sua, não se perturbe.

Não fuja de seu sofrimento, mas deseje o aprendizado e o fim dele.

Acredite que pode realizar seus desejos, confie no amor de Deus para isso, mas não deseje o que não lhe trará paz e felicidade.

Deseje coisas novas que dêem assas ao seu coração. Mas não se esqueça que o desejo dos outros pode ser diferente do seu, respeite-os por mais que machuquem.

Não possua coisas demais para não ter de vigiá-las. Isso impedirá você de aprender.

Plante sementes em terra boa, mas não se esqueça de molhá-las. Só sementes ruins crescem sem dedicação e cuidado.

Alegre-se com a transição das coisas, com a mortalidade e não crie correntes para segurar coisas e pessoas, você terá de carregá-las para onde for e seus passos ficarão difíceis.

Compreenda que ninguém é superior a ninguém, apenas estamos em estágios diferentes, nunca se sinta acima ou abaixo de alguém.

E acima de tudo, desejo e lute para ser sempre melhor de espírito, mas ame a pessoa que você é, pois sem o amor você nunca crescerá.


Por Adri.n Aprendiz

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O dia em que meu celular teve uma vibração estranha

O primeiro suspiro saiu por ele:
um toque.
uma respiração estranha
o último parou com ele:
calado

calar...
aprendi como se cala a madeira:
o artesão faz sua arte
o chamam de calar.
Talvez sua arte cale corações.
Com certeza ao calar a madeira
ela fala muito mais

por Adri.n
a espera de um artesão

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Caminhar na chuva

Sentir as gotas até o escuro ficar branco

translucido espírito
compreende o igual
se permite aprender sem altura.

por Adri.n transluzindo

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Coração de Valentim Parte III

para Déborah

Valentim entrou em nossa cabana correndo e parou para ver o crepúsculo e meu coração quase não me permitia ouvir minhas próprias palavras:
- Valentin...
Ele olhou para mim ainda de máscara, se dando conta dela, tirou-a e sorriu:
- É como história que me contou mestre, ele é igual a mim e tem bom coração.
- Imagino que sim.
- não, o senhor não viu... acho que quase ninguém viu... mas eu sim. Ele deu seu brinquedo a um menininho que não parava de olhá-lo. Aí, quando recoloquei minha máscara e voltei a observá-lo vi que ele fazia sinal para que o menino não dissesse nada. Ele tem bom coração. E eu sou muito feliz de ter um irmão assim.
- Poderia ser você lá.
Ele arregalou os olhos:
- Toda aquela multidão e aquela cerimônia é assustadora só de se olhar quanto mais ser o centro dela. Sou feliz por não ter de viver assim.
- Fica feliz?!
- Que bom que ele tem ela.
- Ela?
Ela abaixou os olhos:
- ...nossa mãe.
Aproximei-me dele e toquei seu ombro:
- Valentim... acho que é perigoso ficarmos tão próximos do castelo com a semelhança de vocês, seria melhor partirmos.
Ele olhou-me angustiado.
- Afastar-me de meu irmão?
- Você não poderá nunca...
- Falar com ele, eu sei! mas posso vê-lo e saber dele. E deixo meu cabelo crescer e logo terei barba, ninguém notará porque ninguém sabe que eu existo. Se ficamos aqui até agora e nada aconteceu, porque partir?
- Eu fui imprudente
- Mestre...
O medo e angustia me impulsionavam e juntar nossas coisas naquele momento e fugirmos como se estivessem nos perseguindo, mas entre meus instintos estava o desejo dele e sob seu olhar de suplica não tive forças:
- Preciso refletir sobre isso...
Ele respondeu-me com um abraço alegre, como se eu já tivesse concordado, e nada mudou em seu semblante. Eu não dormi com todos aqueles pesadelos, mais fortes e intensos que nunca, e no meio da noite me dei conta de que Olívio e sua família conheciam o rosto do príncipe ...

Vaguei pela vila antes de amanhecer e com a aurora dei com Olívio observando-me de sua janela, ao perceber meu olhar ele abriu a porta e ficou a frente dela, a minha espera. Aproximei-me sem saber o que diria, ele sempre cordial e compassivo, cumprimentou:
- pelo que vejo esqueceu da noite, entre e tome um chá comigo.
Entrei e sentei sem dizer palavra. Ele sentou a minha frente olhou em meus e olhos e falou:
- Serafim, nunca foi da minha conta saber que desgraça o trouxe até nós. O que me importa é a benção que é tê-los conosco, tem ensinado muito a nossos filhos e sempre esteve ao nosso lado...
- Vocês é que sempre foram...
- Serafim, somos amigos e não precisamos de palavras bonitas e nem de respostas. Se estou tocando nisso agora é porque não posso ignorar o quanto ficou abalado com nossa ida ao castelo e quero ajudá-lo. Diga-me o que precisa... como posso fazer isso?
Abaixei a cabeça relutante:
- ... deveríamos partir... eu gostaria de poder lhe contar tudo...
Ele interrompeu-me com um aceno de mão, do mesmo modo que fazia com os filhos quando tentavam justificar uma travessura:
- O passado nunca me importou, conheço seu coração e é o que me basta. Vou lhe dizer o que pensei e não quero que me diga se estou certo ou não. - E foi até a janela permanecendo de costas para mim, com a sensibilidade de não observar minhas reações enquanto falava. - Me perguntei como Valentim se sentiria ao ver o castelo, o príncipe, eles têm quase a mesma idade e crianças sempre se parecem. Assim, achei que ele poderia se ver no príncipe e como toda criança deslumbrada com um mundo novo desejar fazer parte dele. Mas me pareceu que ele não gostou nada daquilo, quase tanto quanto você. Ele ama nossa vila e nós os amamos. Faço qualquer coisa para que permaneça assim. Vocês dois como parte de nossa família.
Meu coração perdeu o peso:
- Você não tem idéia do quanto me ajudou. Valentin quer ficar, mas eu temo... não sei se é melhor a fazer.
- Ir para longe de ser amigos vai aliviar seus tormentos? Parece-me que sofre por coisas que não acontecem, ir para longe vai mudar isso?
- Acho que lugar algum mudará isso.
- Então talvez devesse mudar em você
Sorri para ele:
- tem razão meu amigo, como sempre.
Olívio era assim possuía a sabedoria das pessoas simples que eu nunca tive, mas de alguma forma a transmitiu a Valentim. Retornei a cabana, ao nosso lar, e tive minha última conversa com Valentim:
- Muito bem, será como deseja. Confiarei em sua prudência, mas lembre-se que é perigoso.
- Eu lembrarei, só quero saber de meu irmão, estar por perto.

E deste dia em diante nada mudou em nossas vidas, ao não ser o crescimento e o aperfeiçoamento de Valentim nas artes da guerra. E nos longos cabelos que ele nunca mais deixara cortar acima do ombro. Lutei até conseguir afastar meus tormentos, se o pior viesse eu estaria ali para protegê-lo e tratei de ensiná-lo muito bem a arte da defesa (aulas que muitos aldeões também quiseram e tiveram), tanto que em alguns anos me superou. Ele cresceu e passou a ir ao castelo todas as semanas para ter noticias do irmão. Até então não tive preocupações com Valentin e falávamos da realeza como qualquer aldeão, os chamávamos por seus títulos mesmo que sozinhos, a ponto de que quase esqueci de quem eram.
Meus pesadelos só voltaram quando vieram os rumores de que o príncipe passara a embriagar-se e não havia nada que o rei fizesse que o impedisse. Tornara-se negligente em seus estudos, mas sabia fugir do castelo como ninguém e quase todas as noites o fazia, voltando ao amanhecer ou ao tardar do sol, sempre bêbado. E Valentim começou a se perturbar, a se preocupar e chegou a me questionar se poderia interferir de alguma forma para ajudá-lo.


Então Valentin fez o que estava ao seu alcance, toda a noite ele percorria o longo percurso da vila ao castelo e a distância vigiava o irmão. Enquanto este era carregado ao castelo por seu cavalo Valentim o acompanhava as escondidas até o ver alcançar os portões do reino. Então retornava, às vezes dormia na carroça, exausto, mas faísca era esperto e conhecendo o caminho sempre trazia Valentim de volta.
E por vários meses eu via Valentim sair em sua carroça com meu coração angustiado, Valentin cuidava do irmão a distância o amava e sofria por ele como se tivessem crescido juntos. Voltava entristecido contando como o irmão cada vez mais se afundava no vício e angustiava-se por não poder ajudá-lo.
Houve uma tarde, apenas uma, quando eu não podia mais suportar seu sofrimento, a qual tentei persuadi-lo a ficar. Disse a ele que o que fazia não ajudaria o irmão, e ainda poderia prejudicar a ele. Valentim olhou-me nos olhos e lembrou da historia que lhe contei um dia:
- O irmão não pode salvar o que foi para a torre, mas não o deixou sozinho.
E diante da resposta que Valentim me deu finalmente aceitei o que soube naquela tarde que Valentim conheceu seu irmão, que seus destinos estavam ligados e não havia como separá-los. Minha mente enfim aceitou o que meu coração sempre soubera. Que a Valentim importava ter um irmão e se ele o amara apenas por isso nada os separaria, a menos que o outro não sentisse o mesmo por ele. E me angustiei com este novo pensamento. O príncipe jamais saberia que tinha um irmão, mas ainda assim, naquela noite, enquanto Valentin dizia a Silvestre que ele não poderia acompanhá-lo vi a imagem de dois Valentim se observando com olhares perplexos...

por Adri.n

sábado, 19 de julho de 2008

Riso-canto


.
.
O riso é o canto do homem-pássaro
A criança-pássaro nasce cantando
e como canta!
já o homem-pássaro costuma perder a prática...


Por Adri.n que ainda canta

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Correr, voar e sonhar

.
.
O menino que corria e o viajante que voava

Havia uma pequena aldeia onde as pessoas eram alegres. E o menino corria. Corria com os pássaros enquanto os mais velhos plantavam e colhiam, e corria com as risadas enquanto os mais velhos conversavam no fim de tarde. A vida dos mais velhos era plantar, colher e sorrir e a vida do menino era pular e correr.


Houve o dia que o menino parou, em seu caminho estava um viajante ferido...

........................(cbs).......................


por Adri.n
ainda com medo de voar

domingo, 6 de julho de 2008

...



O namorado passou a ligar menos,
dizia que ela tinha de se cuidar mais, sair mais.
Saiu e comprou um espelho,
este a elogiava cada vez que passava.
Terminou com o namorado.


por Adri.n ...

sábado, 5 de julho de 2008

Minha vida com a Imaginação

De mãos dadas com a Imaginação, eu vou!

aaA Imaginação é uma criatura travessa que já salvou minha vida algumas vezes. Agora que estou razoavelmente segura do Instinto Suicida e nos tornamos amigas depois de tantos encontros, passeamos de mãos dadas entre o dela e o meu mundo.
Basta semi-serrar meu olhos e ela guia-me por onde vive.
aaDe manhã, ando pelo asfalto e acompanho o balançar de umas poucas árvores ela logo chega cantando e caminhamos por uma floresta de árvores sem fim - gigantes que abrigam todo tipo de vida.
aaAo retornar para minha casa pego um atalho: uma passarela rústica de madeira construída em cima do rio, Os que não andam com ela só vem esgoto. Mas nós duas adoramos passar por ela, o som do meu tênis sobre a madeira, e o quase flutuar do corpo. Ela cruza meu mundo com o dela, atravesso uma ponte japonesa e quase ouço o som da cascata cristalina, tão próxima que sinto seus pingos em meu rosto e flores perfumam o caminho...
aaHá noite, quando suas energias já estão fracas depois de tanta aventura, nos sentamos em frente à tela mágica e passeio entre minha casa e a de amigos, converso com eles enquanto comem ou descansam e do meu lado corrijo minhas letras. E ela, mais marota, às vezes põe a cabeça na tela, espia e descreve-me o que viu. Meus amigos acenam para ela e mandam-me docinhos de boa noite. Pena não podermos nos tocar... E o beijo, e o abraço só são quentes pelas palavras e pelo riso.
aaQuando vou dormir, já de olhos fechados ela brinca com meus sonhos, incansável e marota, já me conhece bem e sabe o que me agrada. Quando acordo, ela não esta mais por perto, mas não temo; sei que não demora muito para ela voltar basta eu sorrir e brincar com meus pés.



por Adri.n
sempre de bem com a Imaginação

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Do que aconteceu e não se viu (ou do que está acontecendo e não se vê II).

.
Do que aconteceu dentro de ti, quando saíste.

Tu saíste e deixaste uma pequena fresta. Eu distraída, não percebi. Logo senti uma linha a mais de frio, um raio a menos de luz, e quando fui identificar a origem da mudança brusca dei com ela: seu olhar gélido, sua voz sumida e fina. Dei-lhe as costas e disse para ir embora. Não permitiria que ficasse. ela riu seco e forçadamente tentando zombar. – Me desprezaste uma vez, porque tinha uma alma a se agarrar, mas agora ninguém te ama e só tem a mim para ficar ao seu lado, não tem mais escolha.

Respondi com um sorriso quase morto, mas com determinação - Eu amo a mim, o que tenho e o que sou e isso basta para que não entres. Ela ainda insistiu ansiosa para que eu fraquejasse - E o que vale isso? Deste todos os aprendizados que colheste a aquela alma e ela desprezou tudo que és como pode se amar depois disso? Então o sorriso renasceu pela lembrança - Descobri que posso espalhá-los pelo mundo, que sempre a alguma alma para os acolher, e isso me faz feliz e me basta.
- Se nem aquela quis acolher? Ninguém os quer, só tu vês graças neles e nada te vale.
- Ainda que isso fosse verdade, se há os que acolhem você, acolhe-se tudo.

Ela ficou roxa e abaixou os olhos (como as pessoas que tem almas que andam com ela). Ficou pelos cantos e quando tu chegaste de mãos dadas com a alegria, saiu pela janela para não cruzarem-se (descobri assim que as duas nunca ficam juntas ainda que estejam sempre próximas, tu ja sabias por isso a trouxe quase arrastada para mim). Pelos teus olhos ainda a vejo rondar, a espreita de uma pequena brecha, e quando ela me encara eu sorrio, lhe dando a certeza de que por mais que entre, não lhe darei abrigo. Esta cansada e fraca e quase posso jurar que hoje pela manhã a vi juntar algumas gotas e partir.

Por Adrin, ainda de mãos dadas com a alegria

domingo, 22 de junho de 2008

Meu amor cresce.


Levantei e envie-lhe um último beijo com meu olhar para seu sono tranqüilo.
Ele a parte do mundo entre lençóis e plumas. Eu tendo de voltar para o mundo.
Entre a porta, senti uma imensa saudade de tê-lo em meus braços, um dia inteiro sem seu sorriso, sua doce voz dizendo que sou dele. Meu caminho é todo completo com ele em meu coração, impossível me afastar do sentimento de sua existência. A cada dia meu amor cresce com ele e ando pela vida sorrindo porque o amo, porque esse amor é só nosso, porque não há nada mais eterno, porque o amarei por toda minha vida e por todas as outras, e porque isso ninguém pode me tirar: uma vida que se desenvolveu em mim e que agora flori a minha...



Por Adri.n sempre enamorada

terça-feira, 17 de junho de 2008

Continuo a ver poesia por onde passo:



Couve-flor (não) é rosa


As couves são flores
Rosas sem suas cores
Rosa verde
Não cor de rosa
A Couve é flor


As flores são amores
Amores não são flores couves
Apenas rosas, de suas cores
Com espinhos
Protejem seus amores


As couves que são flores
Não têm cor de rosas
Não têm espinhos
Porque não tem...

amor!

por Adri.n
entre quintais e jardins.

sábado, 14 de junho de 2008

Se as ostras soubessem cuspir não haveriam pérolas


Por causa de Adília Lopes
(com algo de Penélope)

" ...e se a vida fosse um eterno estar a janela..."

Fernando Pessoa

1
Maria Sonhadora
passa o dia em sua torre de janelas
espera por seu príncipe
tem de estar a vista
para que ele a veja quando passar
por anos Maria espera pacientemente
e a angustia cresce em proporções intoleráveis
confidencia seu segredo a Ana Cristina
Ana Cristina diz que talvez seu príncipe
tenha sido atropelado
Maria Sonhadora se joga da janela
e quebra uma perna.

2
Maria vê seu príncipe acenar
Desce escadas já quase sem coração
O tem a seus pés
Roncando de bêbado

3
A terra do encanto foi tragada pela lógica
e os príncipes extintos
Maria chora por ter nascido
no tempo errado

4
Maria Sonhadora fecha a janela
irritada com a demora de seu príncipe
Da rua alguém grita que a louca da janela morreu
e Maria chora

5
Maria sai a rua
para comprar seu primeiro jornal
o mundo tem mais crueldade

do que poderia imaginar,
joga o jornal de sua janela.


por Adri.n
que às vezes abre a janela...

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Descubro que meus tênis deixam meus pés molharem-se na chuva


Escrito a espera de um ônibus:

Descubro que meus tênis deixam meus pés molharem-se na chuva

De baixo da chuva sinto meu corpo gelar. Não me importo, há uma alma que me espera e será capaz de me reaquecer com seu sorriso. Ei, pseudo anjo de meias assas!De onde soltaste-me,do tombo que precipitaste-me, matarias muitos.Mas eu não lhe dei tanta importância assim na minha vida, e sorrio com essa minha pequena travessura.
Aqui com as parcas, estico o fio de minha vida e tricoto algo quente e aconchegante para o futuro (dos que amo e amarei).

por Adri.n - nubífuga

sexta-feira, 23 de maio de 2008

De todas as formas de amar...


Li uma crônica do Schroeder esta semana que me impressionou:

“Os únicos dois atos verdadeiramente revolucionários no mundo de hoje são isolar-se em um livro e abrir-se num amor. Esqueça a retórica da esquerda, a letargia da direita e o conformismo do centro, pegue um livro e vá namorar num parque, seja um revolucionário de verdade”.
(No link:
http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a1864876.xml&template=4191.dwt&edition=9875&section=898)

Tenho de concordar com ele. E fiquei a pensar, apesar de não ter um amor para ir ler no parque minha vida está rodeada dele. E tive de escrever, ainda que eu não saiba poetar..




O amor envolve



O amor é insípido, inodoro
Mas dá forma, luz,
Cria vontades,
Desenvolve alegrias

Ainda que o prendam,
Não fica na escuridão.
Atravessa qualquer brecha.
Tem espírito livre.

O amor move a vida,
E aceita a toda,
Na sua forma.
Diversidade.

O amor não transforma,
Mas metamorfoseia-se por ele.
Poucos verdadeiramente,
Muitos por apenas um tempo.
Mas nunca por pedido.

O amor sobe e cai eternamente,
Mas não modifica sua essência:
Amar sobre todas as coisas, fatos ou dores.

O amor não é alegre,
Não é triste,
Não é um estado de espírito,
Não é uma busca.

É uma vontade,
Uma escolha de vida,
Desprendimento.

Aceita o sofrimento como quem aceita uma flor,
E permanece com ela até murchar.
Depois a poe fora sem mágoa.
Entende que seu tempo já acabou.

E volta para o jardim cheirar as rosas,
As flores.
Toca-as, beija-as,
Mas nunca as colhe.
Prefere-as livres,
Para as borboletas.
Ama-as em todas as suas cores e formas.


Por Adri.n que sempre ama.

terça-feira, 20 de maio de 2008

horas de espera

vejo os sinais tomarem significado
a espera em fim se concretiza
em nadas

os pássaros não vieram
estão fartos de meu olhar espantalho

continuo a esperar


por Adri.n
marmorizada

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Experiência e impressoes a cerca do meu cotidiano:

Meus sorrisos não acabaram


É fim de tarde e tenho pressa, me esperam, mas o tempo parece não seguir meu ritmo hoje, novamente, e entro no seu. Na rua pedem minha atenção, já que a tenho, dou. Com um arame e um pouco de arte meu nome vai sendo desenhado, penso nele, quase o mesmo do meu pai não fosse um por um D maroto que se pôs no meio, sobram as três letras que um dia formaram o nome de minha vó. E da minha mãe o que tenho? Herdei todo o resto, menos a idade e a experiência, estas terei de conquistar por mim mesma.

Um pequeno arame pode ser um porta retrato, um porta incenso ou um questionador, basta ser criativo e ter simplicidade. Por fim pede-me um sorriso. Sou incapaz de negá-los. E o entrego com satisfação.

No percurso do fim de tarde os pássaros parecem pedir um sorriso também. Paro por alguns segundos e lhes dou.

Alguém da um pouco de seu mau humor e pede-me uma cara feia. Penso em dar. mas estou muito feliz e lhe dou o que tenho a mão. Mais um sorriso.

Quando finalmente chego ainda me esperam, já conhecem minha sede de sentidos e não me censuram, sou recebida com sorrisos e abraços; devolvo com o melhor que tenho deles.

No fim da noite dou com minha imagem refletida na tela. Estou azul e translúcida. Deixo de devagar, não sou eu, mas ela encara-me com a mesma mão abaixo do queixo, será que tem a mesma sede que eu pela vida?

Meus pássaros têm. Um facho de luz, ainda que a meia noite, é motivo para eles começarem a cantar, se a apago silenciam, mas permanecem vigilantes a espreita de qualquer clarão, ainda que durem segundos. Estão enamorados, mas sem companheiras pergunto a eles se trocariam seu espaço para voar por um ninho com uma delas e tudo que acarreta depois, eles continuam a cantar insistentemente. Está decidido, amanhã terei menos pássaros e eles companheiras.

Meus sorrisos ainda não acabaram...

por Adri.n
com o bolso cheio de sorrisos,
coloridos...

domingo, 11 de maio de 2008

Preciso de aulas de mergulho para não me afogar nesse mar de letras.

Um livro afogava-se debaixo da ponte. Joguei-lhe uma corda e um fio de fumaça a agarrou, quando enfim o puxei, antes que meus dedos o tocassem vi que a fumaça era na verdade letras de todos os tamanhos e formas tão bem encaixadas que ganhavam vida e um estanho ser de letras sorriu malicioso para mim: faça um pedido e ele será seu. Desconfiei mas não me surpreendi, há muito que aceitei a mistica das letras. Fechei meus olhos e li um pensamento cruzando por dentro deles. Abri-os e num fôlego só e o assoprei: Uma companhia que ame a sonoridade das letras, pronunciadas ou não, um bom amigo dos livros que os tenha como eternos. Mas que não tenha ciúmes. Que os abramos e ouçamos suas estórias, na voz de cada um de nós sob uma sombra frondosa, debaixo das estrelas, junto com a brisa e o perfume das flores da beira do rio ou ao som das ondas no encontro com a areia. Que telefone no meio da noite por conta de um poema. Que falemos muito de suas vidas e quem sabe participemos do nascimento de um deles...
O homem de letras criou pés só para pô-los no chão e pontos miúdos caíram de seus lábios enquanto gargalhava, interrompendo-me do devaneio, depois os aspirou com cuidado e com grandes olhos de exclamação zombou: porque não deseja, como todo mundo, a alma gêmea em forma de homem perfeito? E isso existe?! Ainda assim seria mais fácil encontrar que a companhia, de homem ou mulher, que me descreveu. O que desejo é muito mais simples que a perfeição. Se seu desejo é simples, porque você não o cria?
Irritei-me com ele e joguei o livro para dentro de minha mochila, ele ainda teve tempo de esticar uma grande língua de letras antes de sumir. Se não fosse sua casa o livro, o teria deixado se afogar...
Mas o desejo havia nascido em mim e não mais me abandonou. Semanas depois sentei em frente à tela, abri páginas em branco, tomei muito café e cheirei flores, mas as letras não vieram. Ao menos as minhas; criadoras. Vieram as outras, desafiadoras, transformadas em homem pássaro, saídas de minha mochila com o riso que eu já conhecia: Acredita que a vida existe pela lógica e a perfeição?!
E ele riu tanto que pontos e letras saíram de sua boca e caíram sobre meus papéis brancos e a tela vazia. Tudo se encheu de letra em meu quarto e em minha mente, milhares delas enchendo minha vida. Crie-as! - ele disse antes de dissipar-se.
Desde então venho reunindo suas letras na ânsia de compreender o que ele tentara me ensinar e com um fio de esperança de que se o fizer, o desejo que o homem-letra fez brotar em mim, em fim, se configure.
E claro, ando desviando as águas para não correr o risco de deparar-me com outro náufrago, seria demais para minha pequena existência, ao menos, até eu aprender a nadar neste mar de letras...


Por Adri.n quase precisando de salva-vidas...

domingo, 27 de abril de 2008

Dia desses fiz anos.
Meus alunos deram-me o melhor presente:
Carinho,
Muitos abraços ,
E uma chuva de letras .
Quem me dera juntar todas elas...

...

Talvez um dia eu consiga!


por Adri.n
aprendendo a magia das pequenas coisas...

sábado, 26 de abril de 2008

As idéias não pertenciam a Saú porque ele não as queria pertencer...

As idéias não eram de Saú.

Saú compreendia a todo tipo de idéia, e a toda hora uma vinha ao seu encontro (principalmente as mais velhas e sábias que procuravam refugio e companhia em corações generosos). Bastava ele sentar-se em um banco de praça ou parar por um instante que fosse a observar o canto de uma andorinha e pronto. Uma idéia vinha ter com ele. E eram muitas as que lhe solicitavam abrigo. Saú relutava, mas sempre acabava cedendo à compaixão e as recebia, pois gostava da companhia de todo tipo de idéia. No entanto, fazia enorme esforço para escondê-las no fundo do quintal para que ninguém mais as visse.
Um dia uma idéia entusiasta saltou janela ...

..............(cbs)...........

por Adri.n que nada é, mas não sabe.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Aconchego

Vi um pássaro por entre os vidros da janela

Um pássaro me viu por trás dos vidros da janela

Se foi tomado pelo mesmo sentimento que eu para com ele?
Tomara que sim.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Já não tive medo das nuvens.

Quando menina aprendi a voar!

Bem me lembro dos primeiros vôos acima dos telhados do sítio de minha avó. Eu não sabia como fazia ou porque fazia, mas queria aprender a voar mais alto. Até que um dia me dei conta, não lembro se por mim mesma ou pelo que os outros me disseram, que eu poderia cair e quanto mais alto...

Comecei a voar com mais cuidado, e então os telhados pareciam-me altos demais e eu não passava da altura das janelas até que larguei de me aventurar e passei a viver no chão.

Uma noite minha bicicleta flutuou comigo, morri de medo, mas senti saudade e quis novamente voar. Então porque o que um dia eu fazia com tanta facilidade passou a ser tão complicado? Não conseguia mais que, com muito custo, flutuar alguns centímetros do chão. E tentava até a exaustão. Um dia chorei: - Não posso mais voar.

E então meu espírito tomou as rédeas e voei numa velocidade e altura extraordinárias. Foi fantástico! Percorri os campos como uma águia, dona do céu! Não queria pousar nunca!!! Mas, outra vez no chão, não ouso fazer de novo.

É muito perigoso.

sábado, 12 de abril de 2008

Do porque escrevia e do porque escrevo...

Um dia me apaixonei pela escrita
E tinha de viver esta paixão
Muitas vezes me era doloroso
A cada tombo decidia não correr mais o risco
Mas o coração se inflamava
e eu tinha de continuar para respirar
O medo rasgou meu peito por diversas vezes até que consegui expulsa-lo
E então descobri o amor
O amor!
Esse sentimento maior e absoluto
Deu-me a paz que eu não conhecia
E a felicidade que eu não acreditava
Ensinou-me a escrever com desapego
A educar as letras nascidas de mim para o mundo
Pelos simples desejo de criar
Sem os querer eternamente para mim
E sem temer no que eles se tornariam
Apenas amando-os
E assim aprendo a ser feliz

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Coração de Valentin- Parte II

Não começe por aqui, esta é a segunda parte...

Coração de Valentin- Parte II

Valentin tinha nove anos da primeira vez que me perguntou sobre sua família e lembro-me da cada palavra trocada como se as tivesse acabado de pronunciá-las. Era fim de tarde e ele entrou em nossa cabana da mesma maneira que sempre fazia alegre e sorridente, e sentou-se no seu banco em frete a janela para observar o horizonte - seu lugar preferido para assistir o sol se por - e de repente falou, como se tivesse recordado de algo trivial:
- Mestre, ouvi Flora falando que minha mãe está morta... Eu tive uma mãe?
E talvez, impulsionado por sua tranqüilidade, ou pela necessidade de finalmente verbalizar todo o ocorrido, depois de nove anos, foi sem nenhum constrangimento ou receio que contei tudo com sinceridade:
- Você tem uma mãe, um pai e um irmão.
- Mesmo?! E... porque eu nunca os vi?
- Seus pais acreditam que você morreu, há muito tempo. Eles não sabem que você está vivo.
- Por quê?
- Por que seu pai o queria morto.
Tive um calafrio ao terminar de dizer aquelas palavras, Valentin era sensato até demais para sua idade, mas ainda era criança e arrependi-me de as tê-la dito com tanta naturalidade. No entanto, minhas palavras não o perturbaram e ele continuou a questionar como se falássemos de algo trivial:
- Por que ele não me quis, ele não gostou de mim?
- É muito mais complicado que isto... Não é culpa sua ...e nem dele...
Aproximei-me sentei ao seu lado e contei tudo que sabia olhando em seus olhos, que por nenhum momento se sobressaltaram:
- Há muito tempo atrás, um nobre teve dois filhos gêmeos. Eram garotos idênticos e ninguém conseguia diferencia-los. Quando estes completaram dezenove anos um deles cruzou a praça principal enfurecido, desafiando para um duelo um jovem, talvez um pouco mais velho, na frente de todos. Eles lutaram e o jovem foi morto, o outro fugiu apavorado e ninguém soube dizer qual dos gêmeos era o culpado. Diante do velho rei cada qual se acusou dizendo que o irmão, inocente, queria tomar o lugar do outro. Sem saber o que fazer, tendo que punir o culpado, mas não querendo condenar o inocente o soberano trancou os dois na grande torre azul acreditando que com o tempo o inocente desistisse da prisão e mesmo que ambos resolvessem dizerem-se inocentes, uma vez questionado sobre os acontecimentos o culpado denunciar-se-ia.
- Deu certo?
- Não. De inicio os guardas os ouviam discutindo, mas ao fim de dois anos apenas sussurravam até que um dia um deles gritou por ajuda, acordara com o irmão morto. Voltaram a questioná-lo sobre o assassinato e suas únicas palavras fora uma pergunta ao pai do jovem assassinado que era também conselheiro do rei: se já não tinha o suficiente para sua vingança.
Um homem velho a que todos chamavam de sábio passava pelo reino naqueles dias e, pressionado por sua corte e pelo pai do jovem morto, o rei mandou chama-lo para ajudá-lo no julgamento.
- e o que o sábio disse?
- ele olhou com tristeza para o velho rei e o pequeno príncipe que deveria ter mais ou menos a sua idade ao seu lado e disse que não poderia ajudá-lo. Mas o conselheiro, o agarrou pelo braço e disse que seus olhos mostravam que vira algo.
E com tristeza na voz o sábio disse: no futuro o segundo tomará o lugar do primeiro. E com fúria disse ao conselheiro. E você sentenciou seu reino a esta maldição.
- O que isso significa?
- Ninguém sabe. Os sábios sempre dizem coisas que só compreendemos quando acontece.
- E o que aconteceu com o rapaz?
- O rei o expulsou do reino sobre pena de morte se retornasse e ele e seu pai foram com o sábio, que permitiu que o acompanhassem. E desde então todo o reino passou a considerar que a maldição do sábio cairia sobre toda a família que tivesse gêmeos. Enquanto eu falava observava o rosto de Valentin, temendo sua reação, mas apesar de tudo que eu revelava, ele olhava para mim com naturalidade. E eu continuei como se falássemos do fim de tarde:
- O velho rei era seu avô e agora o rei é seu pai.
Valentim permaneceu em silêncio pelo que me pareceu anos e eu senti minha respiração falhar. Ele sabia o que significava ser rei e principalmente o que ele teria se fosse o príncipe e a esta altura já tinha compreendido que o irmão o era enquanto ele vivia longe de tudo, mas ele pareceu não considerar o fato, e não me questionou porque era ele que vivia comigo ou como tudo aconteceu. Seus olhos se iluminaram quando exclamou com a voz quase sumida:
- Eu tenho um irmão gêmeo?!
- Sim
E parecendo satisfeito, sem me perguntar mais nada, ficou a refletir sobre o pôr-do-sol e quando jantamos conversamos sobre as coisas da vila e fomos para nossas camas do mesmo modo que todos os dias.
Contudo, acordei sobressaltado logo depois, pois em meus sonhos vira um Valentin muito zangado gritando com a voz do rei “Serafim, mate-o”, aproximei-me de sua cama, ao lado da minha, e o vi dormindo tão tranqüilo quanto todas as noites em que eu acordava de pesadelos aos quais guerreiros irrompiam a porta e o levavam. Mas meu coração não se acalmou, passei a noite imaginando sua reação de fúria quando finalmente compreendesse tudo. Eu conhecia Valentim desde seus primeiros suspiros, mas ainda não confiava em meu coração. E minha mente dizia que era uma questão de tempo para tudo ruir. E voltei a me recordar do destino dos gêmeos aprisionados na torre azul, quando tudo aconteceu e eu e Bonifácio vimos o olhar fuzilante do conselheiro para com o gêmeo sobrevivente, éramos menores que Valentim. Mas nunca esqueci aquele olhar duro e perverso, é da natureza do ser humano registrar sempre o ruim com mais realismo, pois eu não lembrava do olhar dos dois irmãos ao serem mandados a torre juntos.


Ao acordar na manhã seguinte o vi sentado aos pés de sua cama, no outro lado do quarto, minha cabeça girava pela noite mal dormida e cheia de pesadelos e por uma última vez me julguei imprudente demais em falar tanto, tão subitamente. Mas o que é feito está feito e eu sabia que não conseguiria falar com ele de outro modo. Criei Valentin como a um filho, mas nunca o deixei pensar que era meu, era natural que quisesse saber e justo que eu fosso verdadeiro. Por fim convenci-me de que se ele me questionava então este era o melhor momento e tinha de fazer o meu melhor para que ele continuasse a ser o que sempre fora; feliz. Devo ter me demorado um pouco em toda esta reflexão e quando voltei a olhá-lo a me observar tive a impressão de que ele ouvia meus pensamentos e esperava eles se calarem e só então me perguntou:
- O que o senhor era antes de eu nascer?
Respirei fundo, ele ainda era o mesmo de sempre e não havia sinal de fúria ou tristeza em seus olhos, me esforcei para olhar para ele enquanto falava, decidi que não mentiria ou omitiria nada do que me perguntasse e que os espíritos me ajudassem:
- O primeiro guerreiro.
- O senhor fica triste por não ser mais?
- Eu era feliz lá, e sou feliz aqui.
Ele sorriu e meu coração encheu-se de ternura, mas minha mente ainda vacilava e tive de perguntar:
- Valentim... saber de tudo isso não o deixa triste?
- Não. Meu irmão é igual a mim?
- Suponho que devem ter o mesmo rosto, mas não posso afirmar. Nem todos os gêmeos são idênticos.
- O mesmo rosto? Os mesmo olhos e cabelos, tudo?
- E os mesmos pés, mãos ... mas não os mesmos pensamentos ou gestos.
- Mas os gêmeos da historia se defenderam até o fim do mesmo modo.
- Mas só um cometeu o crime.
E seus olhos brilharam de admiração:
- Não é fabuloso?!
Valentin meditou sobre isso pelo tempo que eu aquecia a água e eu preparei meu espírito, ele não se indignara com a maldição porque estava encantado demais com historia dos dois irmãos e meu coração já sabia o que ele iria me pedir quando refletisse sobre tudo. E me preparei para ser firme em minha negativa. Ele tomou o chá e me olhou nos olhos, pude senti-lo, mas não desvie o olhar de minha bebida.
- Mestre Serafim...
- Uhm?
- Eu posso ver meu irmão?
As palavras me escorregaram sozinhas sem meu consentimento:
- Você pode vê-lo ... mas não ele a você
- Quando?
Seus olhos brilhavam de expectativa e foi com um nó na garganta que ouvi meu próprio sussurro:
- Amanhã você o verá.



No dia seguinte comemorava-se a festa anual da paz e todo o reino reunia-se em volta do castelo, para assistir as demonstrações dos guerreiros e servirem-se de grande diversidade de comida. Muitas pessoas usavam máscaras coloridas ou trajes de festa. Por isto esse era o melhor dia para nós entrarmos no castelo sem sermos reconhecidos. Olívio e sua família, assim como muitos da aldeia, esperavam com ansiedade por este dia e todos os anos saiam da aldeia ainda de madrugada para retornar tarde da noite. Eu nunca havia aceitado o convite de acompanhá-los, ao invés disso eu e Valentim sempre passávamos o dia na mata, treinando, observando os animais ou simplesmente caminhando para ele não sentir a falta de todos e não desejar ir com eles.
Por tudo isso Olívio surpreendeu-se quando, naquela tarde, fui a sua cabana e perguntei se podíamos acompanhá-los na próxima madrugada. Mas logo ele e a esposa riam e me abraçavam, como se eu estivesse superando uma grande dor, e Silvestre correu a procura de Valentin com duas máscaras nas mãos.
Margarida revelou-me que Silvestre as fizera e tentava convence-los há dias para permitirem que ele convidasse Valentim para ir com eles. E agradeci aos céus pela amizade dos dois mais uma vez, agora não teria que me preocupar em oculta-lo caso seu rosto fosse igual ao do príncipe.
Assim, no dia seguinte saímos, Silvestre e o irmão não paravam de contar a Valentim as maravilhas que ele veria e ele ria e cantava com eles, mais eufórico do que jamais o vira antes. Quando avistamos o castelo ele foi o primeiro a por sua máscara e sorri por sua maturidade. Porem, meu coração não estava preparado, eu preocupei-me tanto com Valentin que esquecera de meus sentimentos e quando atravessamos o portão ele caiu-me como uma pedra eu meu peito. Vi o rosto de Rosa em todos os lugares e meu sangue parou quando avistei Justo ao longe, escoltando a carruagem real.
Foi o dia mais pesaroso, mais difícil de minha vida e que não passava nunca, eu via as pessoas comerem e cantarem, ouvia seus gritos de entusiasmo com cada demonstração de habilidade dos guerreiros e tudo se transformava em vultos que agarravam Valentin e o levavam de mim. Abria os olhos e o procurava, me angustiava não poder ver o seu rosto, não poder ler o que ele sentia. Ele permanecia rijo ao meu lado e não se afastava mesmo sob a insistência de Silvestre para acompanhá-lo, para se aproximarem mais de uma demonstração ou ir ver alguma maravilha e Silvestre então se afastava e retornava e Valentin permanecia ao meu lado como se compreendesse que eu não suportaria perde-lo de vista.
Até que, depois do que pareceu séculos, as trombetas tocaram e todos silenciaram-se para ouvir a saudação do rei. A carruagem parara próximo a roda de apresentações e a família real desceu. Primeiro o rei, depois a rainha e por fim o príncipe Felix, alguém o anunciou e me dei conta que só então soube o seu nome. E minhas últimas esperanças morreram. Não havia diferença física entre ele e Valentin, eram gêmeos idênticos. Não ouvi o discurso do rei, nem a aclamação do povo, só via Valentim, imóvel, atrás de sua máscara colorida que por um instante escorregou de seu rosto e meu coração parou. Mas ele, sereno, recolocou-a e como por milagre nada acontece além de finalmente a família real se despedir e partir sobre a aclamação do povo.
Então Valentin pegou minha mão e eu despertei do meu encanto, não podia ver seu rosto, mas sua voz era suave e tranqüila:
- Agora já podemos ir.
Olívio pareceu entender meu sofrimento, apesar de não poder imaginar qual era realmente, e chamou sua família para partirmos. Acho que me restavam poucas forças e minha expressão deveria estar denunciando meu estado de espírito. Sempre tive consciência de que se eu e Valentin vivíamos bem, muito ou quase tudo devíamos a generosidade e percepção de Olívio e sua família. Valentin aprendera muito no convívio com eles que sempre foram uma família verdadeira uns com os outro e de certo modo nos sentíamos parte dela.
Nós nunca voltamos a conversar sobre minha chegada depois daquele dia, Olívio nunca precisou de explicações, mas ele sentia que algo me afligia e sempre foi muito companheiro. E muitas vezes desejei poder lhe contar tudo, mas isso exporia a ele e sua família a maldição, e eu não queria que nada de mal acontecesse a eles. Mas de certo modo eles já faziam parte de tudo simplesmente por nos amarmos como uma verdadeira família.

(...) por Adri.n

domingo, 30 de março de 2008

Coração de Valentin- Parte I

Há alguns anos em meu curso de línguas, entediada com as temáticas pouco criativas das redações, perguntei a minha teacher se poderia iniciar um romance para os deveres de redação, e assim surgiu essa estória. Nos últimos meses ela tem me perseguido a procura de papel para morar e enfim, ainda que meu coração anseie por estórias mais profundas, não suportei mais e tive que reescreve-la. Tentei reestrutura-la fora dos contos de cavalaria, mas ela já havia nascido e não tinha como negar seu berço. Enfim criei coragem para posta-la aqui com um agradecimento especial a minha amiga Déborah que tem me impulsionado a continuá-la: é a você – Déborah – que dedico esse romance infanto-juvenil (como tu, minha melhor e quase única crítica, a classificaste) prometo que em breve continuarei os capítulos...

Coração de Valentin- Parte I

Cada pessoa é única e isso faz dos homens mais humanos ou mais rudes por uma simples diferenciação da natureza. Nunca existira um homem que pense como outro, não importa quanto possam gostar das mesmas coisas, terem vivido as mesmas experiências ou tenham nascido juntos, nem que séculos ou milênios passem. Jamais voltará a existir uma alma que já viveu. Essa é uma verdade simples que torna cada vida especial, e que não provoca sentimento algum à humanidade. Mas para nós, o povo da torre Azul, é uma verdade triste que só significa uma única dor: jamais renascerá um homem como Valentin...
As palavras faltam-me, quando me perguntam sobre ele, numa mistura de orgulho por tê-lo visto crescer e de dor por saber que jamais o verei novamente. Estou velho e o tempo me é curto. Que a rainha da vida me permita forças para completar esse relato, das coisas que vi e que não desejo que se percam com a minha morte. Que minhas lágrimas evaporem antes de tocar o papel em que escrevo e que o senhor meu rei, e meu sempre amigo, providencie um bom lar para essa história. Que ela seja lida por todos e ninguém jamais esqueça de um grande coração. E que ao coração de quem lê essa história fale, não as minhas palavras, mas sim da bondade de Valentin. Por que quem escreve é apenas um velho guerreiro que há muito admira os grandes domadores das palavras, mas que está muito velho para aprender este ofício, por isso, peço perdão pela ousadia. Só o faço por que acredito que esta história mereça estar nas estantes de cada reino para que as pessoas, ao lê-la compreendam o Valentim de dentro de seus corações e o deixem sair.
Eu sou Serafim, e por muitos anos servi ao rei deste reino com lealdade, não por juramento, mas por admiração e amizade. Nossa majestade, o rei Bonifácio, juntamente com nossa amada rainha Lia, sempre governou com justiça e sabedoria. E não houve noite que, após os últimos treinos, a caminho de meu quarto eu não os encontrasse conversando sobre os problemas do reino, sentados sobre o luar que atravessava a janela da biblioteca. Não havia decisão alguma que o rei tomasse sem consultar a rainha e não havia coisa alguma que a rainha soubesse que não chegasse ao conhecimento do rei.
Minha função como primeiro guerreiro consistia em treinar aqueles que desejassem serem guerreiros nas artes das armas e do conhecimento, contudo, nunca houve uma batalha entre outro reino em meu tempo. Havia um jovem em que eu admirava como filho e a ele dediquei mais atenção. Permanecíamos sempre após os treinos discutindo lógica e filosofia, ao meu estimado Justo eu ensinava tudo que sabia e podia, na esperança de que ele um dia substituísse meus ossos gastos.
A rainha amava as artes e, principalmente para agradá-la, o rei mantinha uma vasta biblioteca no castelo. Sempre que tinha chance eu procurava ler alguns deles, e era lá que passava os meus melhores momentos, quase todos os dias. Numa manhã deparei-me com Rosa, a mais linda flor do reino, sobre a luz da aurora, lendo um livro de poemas e me apaixonei por ela. Por muitas vezes nos encontramos sobre o despertar do dia para nos aventurarmos entre os livros, como ela costumava brincar. Até que finalmente declarei-me a ela e pedi sua mão. E aos fins de tarde encontrava-me com nossos governantes para fala-lhes sobre meus aprendizes. Era um grande prazer para mim ir vê-los e permanecer ao seu lado. Ao escurecer a rainha retirava-se, e o rei e eu permanecíamos a conversar noite adentro, eu era para ele um igual e sentia muita alegria pela sua amizade.
Essa foi minha rotina por anos até aquela primeira tarde em que encontrei somente o rei, muito nervoso, olhando pela janela. Era uma sala ampla e me pareceu terrivelmente angustiante ver o rei só e abatido, até os livros me pareceram sóbrios demais enfileirados em suas prateleiras. Aproximei-me respeitosamente e ele olhou-me angustiado:
- minha rainha... ela teve um desmaio esta tarde. Ana disse-me que ela tem passado mal há dias, estou preocupado Serafim...
Eu, que nunca dominei as palavras de conforto, permaneci calado e me aproximei, preocupado. O rei precisava exteriorizar seus temores e esperei que falasse:
- O curador está no quarto com ela desde o desmaio e as damas não me deixam entrar e não me dizem como ela está... acha que pode ser grave? Se acontecer algo com ela....
- Tenha calma meu senhor... um desmaio pode significar muitas coisas, e nossa rainha sempre foi muito forte. Há de ser apenas cansaço, alguma outra coisa que pode ser curada com repousos.
Neste momento uma das damas, Sara entrou e com um sorriso nos lábios, não pode conter sua língua:
- Que Deus permita que ela não seja curada, meu senhor.
A rainha vinha atrás dela e riu de sua observação, aproximou-se do rei, que encarava Sara, e sussurro algo em seu ouvido. A expressão dele suavizou-se e ele riu, a ergueu e a rodopiou e subitamente parou, colocando-a no chão com cuidado com medo que a tivesse machucado, mas ela simplesmente voltou a sorrir:
- Está tudo bem, meu querido, eu não estou doente.
E virando-se para mim que era o único presente que olhava confuso para as damas que chegavam e riam baixinho falou:
- Serafim, por favor, permita com que esta fofoca, que minhas damas certamente espalharão pelo castelo, com grande alvoroço, chegue a todo o reino. Dentro de oito meses o reino ganhará um príncipe.
As damas não contiveram seus risos ao me verem estático em frente à rainha, sem saber o que dizer, foi minha doce Rosa que guiou-me sussurrando ao meu ouvido:
- você pode sorrir se quiser e agora se despeça e deixemos os jovens pais a sós....
E foi o que fiz, a alegria deles era minha também e já me via ensinando os movimentos da espada a um pequeno garoto de cabelos escuros.
Os dias nunca mais seriam os mesmos. Na primeira semana as damas se mantiveram muito ocupadas em contar e recontar o quanto o rei e a rainha sorriam e como ele não a deixava por mais de minutos. Mas nem por isso o reino deixou de ser governado e administrado, apesar de magicamente as discussões que necessitavam da interferência do rei diminuíssem. E o que mais se falava nos corredores do castelo era com quem o bebê se pareceria.
Eu ainda ia à biblioteca, aos fins de tarde, para conversar com o rei e a rainha, mas agora, quando ela se recolhia ele a acompanhava e eu passei a adquirir o habito de ler algumas páginas de alguns livros antes de recolher-me. Na maioria das vezes não os retomava e a cada dia iniciava uma nova leitura até que Rosa pediu-me autorização, como se precisasse, para acompanhar-me e passamos a fazer leituras conjuntas. Aprendemos muito naqueles meses, e muito do que li deu-me forças para a pior noite de nossas vidas. Que a cada dia se aproximava sorrateira, como uma alma invejosa arrastando-se por entre as sombras da felicidade a espera de uma oportunidade para destruí-la.
Rosa e eu estávamos cada dia mais apaixonados e a cada dia nossa angustia era maior ao nos separarmos para nossos quartos e aguardávamos com tanta ansiedade quanto aos reis o nascimento do herdeiro para finalmente nos unimos perante Deus e os homens. Por algum motivo jovial que me escapa a memória, decidimos esperar o nascimento na intenção de fortalecermos ainda mais nossa vontade, espera essa, acreditávamos, que nos proporcionaria maior felicidade quando finalmente o dia chegasse.
Nossa rainha apreciava muito a companhia de Rosa e lembro-me de uma noite em que ela nos interrogou sobre nosso amor, diante do rei, olhando em meus olhos:
- meu senhor, o que tanto pedes ao primeiro guerreiro que a ele não sobra tempo para selar, enfim, seu amor pela minha melhor amiga?
- posso dar a ele o tempo que pedir, para algo tão esplendido.
Ao que eu, diante da reposta do rei corei, e foi minha querida Rosa que em meu socorro desculpou-se com um pequeno riso nervoso:
- vossas majestades são muito gentis, mas tenho que confessar que a culpa também é minha, por querer uma data que está tão longe.
- E por que desejas esperar tanto, se o que uma mulher mais deseja é carregar o nome daquele que possui seu coração?
- A data me é muito cara, minha senhora.
- Se a considera tão importante não tenho o direito de intervir, mas sinto a obrigação de lembrar que nenhuma data pode ser mais importante que o sentimento. E não é sempre que a espera trás alegria.
- mas as nossas com certeza trarão, minha querida. E permita-me oferecer uma grande festa para comemorarmos juntos, o amor de nossos mais estimados amigos e o nascimento de nosso já amado filho.
Disse o rei feliz, acariciando o ventre da esposa que em quatro meses crescera bastante, ao que todos diziam que o amor de ambos e de todo o reino para com a futura criança o fazia crescer como uma planta bem cuidada. Quanto a mim, vi-me mais vermelho do que nunca:
- é uma grande honra, meu senhor...
- não permitirei recusas – disse o rei, tocando meu ombro e olhando-me nos olhos – vocês serão os padrinhos de nosso filho, eu não o confiaria a mais ninguém.
E a nos só restou agradecer com lágrimas nos olhos, emocionados e felizes.


No último mês de gravidez Rosa me confidenciou que uma sombra parecia pairar sobre o semblante da rainha. Logo ficou evidente a todo o reino que algo a preocupava demasiadamente, todos o atribuímos ao nervosismo e ansiedade e o rei passou a cercá-la ainda mais de cuidados e delicadezas. Até chegar o dia em que soubemos o horror inominável que aproximava e a rainha não tinha coragem de confidenciar a ninguém.
O rei acordou assustado dizendo que a rainha sentia dor, o curador foi chamado, mas não encontrado, Ana o tranqüilizou dizendo que era normal e que até o fim do dia a criança nasceria. Naquele dia o reino parou, como se nem mesmo uma folha tivesse despencado de alguma Árvore. Só recordo-me que ao fim da tarde uma pequena chuva se anunciou. Já era noite, e apesar da chuva não ser violenta alguns trovões e raios apresentaram-se aumentando o angustia do rei, que desde o inicio da tarde andava de um lado a outro em frente ao corredor de aceso ao quarto, único lugar que nos permitiram ficar, com os nervos cada vez mais danificados a cada movimento de Ana, Rosa e Sara. Quando uma delas entrava ou saia do quarto, ele parecia mais angustiado. Ao ponto que Rosa pediu que todos se retirassem, para deixar o rei mais a vontade e trouxe uma taça de vinho, que tive de insistir para que tomasse.
- não quero alterar meus sentidos...
- meu senhor, seus sentidos já estão alterados há muito tempo, isso o ajudará a controlá-los.
Finalmente, após seu segundo gole, ouvimos o choro insistente do recém nascido e o rei correu para o quarto, derrubando a taça, e ouvi sua voz, num misto de angustia a fúria, no corredor:
- o que está dizendo?!
Quando me aproximei, com o coração aos saltos, Rosa estava posta no meio do corredor de braços abertos e falava quase num sussurro.
- por favor senhor, tem de aguardar mais um pouco...
- por quê? O que está acontecendo?
Foram alguns minutos intermináveis, em que o silêncio pareceu tomar conta do mundo e podíamos ouvir nossas respirações, até que o choro recomeçou e Rosa, com angustia nos olhos, olhou de mim para o rei até conseguir balbuciar:
- meu se... senhor... eu...
Então ouvimos um segundo choro de bebê, os olhos do rei ficaram graves e Ana saiu do quarto, o rei virou as contas para as damas, mas eu pude ver sua expressão quando ela anunciou:
- são dois lindos bebes, meu rei
Foi como se sua face perdesse a vida e me senti vendo um morto falar, olhando para o vazio:
- Serafim. Mate-o.
O sangue de nós três congelou e nos vimos cada qual mais pálido que o outro. Rosa falava com se não fosse capaz de pensar:
- senhor, meu rei... são...
- leve o segundo, não me obrigue a fazê-lo por minhas próprias mãos. MATE!
Seu grito tirou a todos do transe, sabíamos que o rei, apesar dele nunca ter cometido maldade alguma, estava decidido a aquela crueldade terrível. Por segundos minha cabeça girou e, incapaz de pensar, avancei em direção ao quarto sem sentir meus passos, não vi Ana postar-se a minha frente antes de eu empurra-la, não olhei para os olhos assustados da rainha e de Sara que ouviram o grito do rei e desviei o olhar do segundo bebê que estava em seus braços. No berço, ao seu lado, repousava o primogênito e foi este que agarrei com todo o cuidado e o carreguei do quarto, o mais rápido que pude, desviando dos olhos suplicantes de Rosa, de seus gritos a me chamar e da rainha a clamar por outro nome. A única vez que chamaria seu bebê pelo nome. O rei não ousou olhar para nós, dirigi-me a coxia ainda acompanhado dos gritos que ecoavam em minha mente: de Rosa, da rainha e do choro do outro bebê. O que eu tinha em meus braços parecia aninhar-se, tranqüilo e em paz.. Tudo parecia um terrível pesadelo e eu corria como um animal sem cabeça.
Enrolei o bebê cuidadosamente para protegê-lo da chuva e seus olhos fixaram-se nos meus e ele dormiu, segundos depois que meu cavalo disparou conosco, sem temor algum. Em minha cabeça só rodopiava uma certeza, a de que se ele ficasse aquela noite no castelo, não amanheceria, precisava levá-lo para longe, até as coisas acalmarem-se. O rei voltaria ao seu espírito e o procuraria, então voltaríamos e todos esqueceriam da terrível maldição. E acalentado por este pensamento, foi que sai cavalgando no meio da escura chuva, com o pequeno em meus braços e eu curvado sobre ele para que minha capa o protegesse da tempestade. A medida que me afastava do castelo os relâmpagos diminuíam, a chuva afinava, mas meus pensamentos continuavam num turbilhão. Contudo, cada vez que eu olhava para o menino e o via dormir quentinho e tranqüilo sentia, confortado, que ele confiava em mim e meus pensamentos iam clareando.
O temor da maldição perdera-se na lembrança, mas voltaria com toda a força quando o reino soubesse da existência dos dois meninos, assim como tomou conta do rei. Então arquitetei um plano, faria com que todos pensassem que ele morreu e quando o reino estivesse tomado pelo luto voltaríamos, e todos festejariam e se esqueceriam da maldição.
Na floresta, encontrei uma cabana de caça aconchegante e pus o bebe sobre uma cama de palhas secas e macias, rasguei minhas vestes, enrolei alguns pedaços nos arreios do cavalo, tirei a montaria e o espantei. Ele saberia retornar ao castelo e quando todos a vissem imaginariam o pior. O bebe abriu os olhos quando me aproximei e deitei ao seu lado para melhor aquece-lo. Sua mão estava quente e ele voltou a dormir.
Na manhã seguinte acordei com uma criança de sete anos em minha frente gritando:
- PAI!!!
Um homem de meia idade apareceu na porta da cabana e olhou-me surpreso.
- o senhor deve morar aqui, peço desculpas pela invasão, ontem chovia...
- não diga mais nada. Esta cabana pertence a todos...
Nisto o pequeno interrompeu-nos e começou a chorar. O garoto se aproximou:
- ele está com fome.
- meu Deus, preciso alimentá-lo.
- Então venha comigo e eu os levarei a aldeia.
Durante longas duas horas em que a carroça sacolejava na pequena estradinha e o bebe chorava agora a plenos pulmões, o homem não perguntou quem eu era ou de onde viemos. Era um homem simples que não precisava de explicações, disse apenas seu nome, Olívio, e falou de suas funções de marceneiro.
Quando nos aproximamos de sua aldeia as mulheres ouviram o choro e correram em nossa direção, logo ele era alimentado por elas e quando perguntaram seu nome lembrei dos gritos da rainha:
- Valentim...
Devo ter denunciado meu estado de espírito porque não me perguntaram mais nada e me ofereceram comida. Olívio disse que se eu estivesse disposto a ajudá-lo poderia ficar com eles e que a esposa ajudaria a cuidar do bebe. Eu nunca ficara muito tempo longe do castelo e ninguém me reconheceu, comovido pela generosidade daquelas pessoas decidi revelar o que podia. Disse que não era pai do menino, mas amigo de seus pais e que tentava salva-lo. Minhas roupas rasgadas às fizeram imaginar o resto e por uma semana ajudei Olívio e se família no que podia, dormia com eles e sua esposa cuidava de Valentim a maior parte do tempo, mas considerei que era injusto aumentar suas obrigações e a pedi para ensinar-me a cuidar dele, explicando que se eu era responsável por ele era minha obrigação cuidar dele, ela passou a me ensinar, mas não saia de perto de nós.
A aldeia ficava muito longe do castelo e só tinha-se notícias do reino no fim da semana quando alguns iam vender ou comprar. Ao quarto dia um aldeão retornou com as notícias: o herdeiro havia nascido, era um lindo menino, mas o reino não comemorava, estava de luto pela morte do primeiro cavaleiro, que saira no temporal a procura do curador e não retornara. O aldeão contou em detalhes como a rainha tivera um parto difícil e como o cavalo do guerreiro voltara, mas não mencionou uma palavra sobre o segundo bebê e eu finalmente aceitei o que não desejava acreditar. Ninguém mencionara a existência de gêmeos e neste momento apenas quatro pessoas no reino acreditavam que um príncipe estava morto. Enquanto ele respondia as perguntas dos aldeões fiquei a me perguntar como pude ser tão estúpido a ponto de acreditar que o rei mencionaria Valentim. Portanto o problema se tornara maior, se retornássemos como explicaríamos a existência de um bebê que o rei não mencionara. Mas o coração jovem é ingênuo e está sempre cheio de entusiasmo e ilusão a boa vontade dos homens e minha imaginação estava fértil. E imaginei uma estória mirabolante com um ladrão de bebês e eu a procurá-lo sem o conhecimento do rei. Daria certo, só precisava falar com Rosa, ela me ajudaria. Não queria levantar suspeita e esperei até o próximo aldeão ir ao castelo e me ofereci a ajudá-lo com a desculpa de que precisava comprar tecidos e roupas para mim e o bebê. Nos separamos na feira e quando me dirigi ao castelo a vi em uma carruagem de viagem de cabeça baixa e mãos dadas com um jovem que nunca vira e ouvi a conversa de duas mulheres ao meu lado:
- é a noiva do primeiro guerreiro?!
- Era. Ouvi as damas da rainha dizerem que ela iria para o reino da terra vermelha com um conselheiro daquele reino, deve ser aquele lá.
Não derramei uma lágrima, mas meu coração se partiu, esperamos tanto para nos unirmos e agora esta felicidade nunca se realizaria, ela não esperara para partir com outro. Foi com olhos cegos que voltei a carroça do aldeão, cheguei a vila, entrei na casa de Olívio e só voltei a ver e ouvir quando meus olhos encontraram os de Valentin e ouvi seus resmungos. Não sabia o que fazer e meu único desejo era cuidar dele.
E assim vivemos...
Construí uma cabana ao lado da de Olívio e nas primeiras noites sua esposa relutava em nos deixar dizendo que o menino precisava de uma mãe, mesmo que fosse substituta. Até a manhã que nos acordou, disse que vira como dormíamos e que sentira que eu cuidaria bem dele. Mas de qualquer modo sempre estava nos levando algo. Margarida fez-se mãe de Valentin. Mas não foi a única, desde o inicio todas as mulheres da vila compadeceram-se por nós dois e à medida que o menino crescia encantava a todos e conquistava a amizade das crianças. Valentin também teve muitos irmãos.
E cresceu: forte, valente e generoso. Não me lembro de um única briga em sua infância, de nenhum gesto de egoísmo ou grosseria. No entanto metia-se em problemas com freqüência, junto com o filho mais novo de Olívio que nascera um ano mais tarde, Silvestre. Os dois tornaram-se inseparáveis e sua amizade e cumplicidade alcançara a juventude.
Posso contar nos dedos, e eles ainda sobram, as vezes que retornei ao castelo. Como era normal a aldeia saber sobre o que se passava com o reino sempre soube a distancia como o príncipe crescia; maroto e generoso. Justo fora nomeado o novo primeiro guerreiro alguns anos mais tarde e antes dele dois guerreiros foram desaprovados pelo rei que parecia ter ficado mais exigente e genioso. Corria o boato que nem mesmo a rainha apreciava mais sua companhia, passando o tempo com o filho. Outros diziam que devido a este excesso de mimo que o rei, enciumado, tornara-se amargurado. Mas a família real era amada pelo seu povo e passados os primeiros meses de mudanças o povo acostumou-se a nova rotina real e parou-se de se falar da vida pessoal dos soberanos, havia muitos nobres com motivos mais picantes para terem suas vidas comentadas a todo instante.


Continua, neste mesmo "bat-endereço", um dia desses...
por Adri.n

quarta-feira, 26 de março de 2008

Alguns sonhos merecem serem contados...

Quem me conhece sabe o quanto os sonhos fazem parte de minha vida. E bom mesmo é quando algum anjo criativo constrói estórias em meus sonhos. Este aqui me encantou tanto que quando acordei corri para registrá-lo antes de esquecer algum detalhe. Não senti o mesmo que quando sonhava, mas ainda assim é uma linda estória:

Um homem e um pássaro

Um homem, admirador de pássaros, passava as tardes a vê-los pendurados nos pequenos galhos de capim, beliscando suas sementes. E aproximava-se devagar, o mais silenciosamente que conseguia, para vê-los mais de perto. E quanto sentia que estes paravam de alimentar-se e erguiam suas cabecinhas, recuava para não atrapalha-los em sua refeição. Com o tempo os pássaros se acostumavam ao homem e seus corações não se agitavam mais quando o viam se aproximar.
Aconteceu que um dia ele tropeçou e quase caiu em frente aos pequenos, que voaram em alvoroço antes que ele terminasse de se desculpar: não tenham medo, me perdoem, por favor, não se vão. E então seus olhos deram com os olhos de uma dos pequenos que permanecia agarrado na longa folha que balançava cada vez mais com seu coração agitado. E os dois se apaixonaram.
De inicio a avezinha se aproximava e quase pousava em seu ombro quando chegava o homem, que não via mais nenhum pássaro além de sua doce amiga. Até que chegou o dia que o homem não foi ao capinzal e a ave, sem fome, voou e voou até avistá-lo dentro de uma janela coberto por estranhos panos. E a pobre se desesperou, imaginando que ele estivesse morto e pôs-se a bater-se contra o vidro tentando inutilmente entrar. O homem abriu os olhos e cambaleou até a janela, com esforço conseguiu abri-la e a pegou entre as mãos: o que está fazendo, minha pequena, podes se machucar. Ao que esta fechou os olhos lentamente e cantou: você não vi, agora vejo, está bem! E dormiram na mesma cama até o homem sarar.
E depois não se largaram mais, para onde o homem ia a ave o seguia voando baixo ou pousada em seu ombro e aos fim de tarde ficavam juntos, com ela acomodada em suas mãos quentes, a observar o pôr do sol. Os amigos achavam tudo um exagero, as mulheres encantador. O homem casou e com o tempo a mulher passou a ter ciúmes da ave, dizia que ele passava mais tempo com esta que com ela. E o homem, temendo alguma maldade da mulher, disse que se alguma coisa acontecesse à ave, ele se mataria. A mulher fugiu com outro e ele e o pássaro passaram a viver sozinhos. De vez em quando esta lhe trazia outro que estava ferido e o homem aprendeu a cuidar de pássaros como ninguém.
E foi por sua fama que um aprendiz o procurou para. Este nunca aprendeu a falar com as aves como o homem, mas compreendia o amor que existia entre ele e ave. Um dia o homem, já velho, foi encontrado morto sobre a grama do jardim. Ninguém notou o pequeno pássaro sem vida, ao lado de seu corpo, quando o levaram para o caixão. Mas o aprendiz pegou o pequeno corpo, ainda quente, de penas brancas e tão esfarrapadas que poderia se dizer que fora a ave mais velha do mundo, não soube precisar se o homem morrera ao encontrá-la sem vida ou se ela finalmente deixara a vida para acompanhá-lo. E quando ninguém via acomodou o pequeno corpo sobre o coração do homem, escondido entre as flores que decoraram sua última cama.

Por algum anjo contador de histórias em visita aos sonhos de Adri.n

segunda-feira, 24 de março de 2008

Amirável mundo velho

Em meios às fendas da terra seca, distante das grandes construções de concreto e do movimento constante das máquinas e quando não havia luta por comida ou armas; crianças, jovens e adultos reuniam-se ao redor do velho que não podia morrer, para alimentarem a alma com suas história, de um mundo que se perdera para sempre. Do qual só restara ele, ferido e contaminado pelo vírus da imortalidade, guardião da história para o resto da eternidade no que restara do mundo.
Quando os que nunca se cansavam de ouvi-lo se reuniam ao seu redor, ele fechava os olhos e recordava o que era viver:
Do cheiro das manhãs de primavera, de folhas verdes e macias, saborosas de serem tocadas e, também, mastigadas e de como o verde se enchia de cor e formas de todos os tipos imagináveis, ou não, deixando o ar com um cheiro delicioso e encantador.
De seres minúsculos que se moviam ao seu redor, de todas as cores e formatos, e dos grandes seres também igualmente diferentes em cores e formas, alguns encantadores, outros assustadores, inofensivos ou perigosos, de muitas pernas ou com nenhuma. De como não se tinham maquinas para fazer tudo, mas se tinha de tudo enquanto agora só se tinha elas.
De como era simples matar a cede.
Das partículas brancas nascendo na copa das árvores das serras, subindo ao céu com grande velocidade até se encontrarem com massas gigantescas e brancas, tão concretas aos olhos, mas incapazes de serem tocas, que caiam do céu sem cor, matavam a sede e molhavam tudo ao seu redor. E do encontro destas com a grande estrela, que formava arcos multicores no céu.
E como era difícil fazer as crianças entender o que significava mergulhar. Elas ouviam fascinadas, de olho fechado ou decifrando os desenhos do velho, tentando imaginar como era sentir a grama em suas solas e palmas ou o sabor de uma fruta colhida do pé. Um mundo irreal, fantástico, contos mágicos que elas nunca viveriam.
O velho chorava por elas, mas principalmente chorava por não ter se perdido junto com o que fora destruído. Seu peito se abria a cada vez que recontava suas histórias, mas se não as fazia sentia lhe faltar o ar e ainda assim não morria.
Um dia comentou com um grupo delas que as crianças daquele tempo gostavam de historia sobre lugares como o mundo em que viviam: com maquina fantásticas e de todas as formas e tamanhos, e cidades cinzentas e de histórias de guerras. E que os adultos não davam importância à grama, aos pequenos seres, ao frescor... Por vezes a tudo ignoravam ou optavam por viver em grandes construções e ansiavam por criarem máquinas como as quais eles tinham agora.
E até o menor deles enfureceu-se com o velho, protestando que não precisavam de pena, de serem consolados por nascerem no tempo errado e que ninguém acreditaria em algo tão absurdo.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Olhos de falcão



Por traz de pilhas de papéis, sentado em sua cadeira de couro, o falcão olhava para as grades da janela o pequeno pedaço do céu que se apresentava aos seus olhos. Ele nascera para voar na imensidão azul, o céu o pertencia. Mas ele não sabia disso. Fora criado atrás de grades entre pilhas de papéis e objetos de todos os tipos e tamanhos. Olhar o céu o angustiava, mas ele não sabia mais por que. Tentara trancar a janela, mas sua angustia aumentava quando não o via. Distraia-se olhando os que passavam. Um jovem de longos cabelos que andava a toda hora ou em hora nenhuma, invejava-o, mas não sabia:
- coisa radícula essa juba. – reclamava, sua simples visão o angustiava.
Havia a jovem sorridente que sempre estava com a casa cheia de amigos. Inveja-a, mas não entendia:
- bando de desocupados que não tem mais o que fazer. - surrava o falcão para as paredes.
O filho fora subir um penhasco invejava-o mais do que a todos, mas não reconhecia:
- esta procurando a morte, ou quer ficar em uma cadeira de rodas? – gritara para o filho quando este o deu as costas e partiu para a aventura.
O irmão andava de roupas rotas e chinelo de dedo, invejava-o, mas não admitia:
- é preciso adquirir coisas e cuidar delas. – não cansava de repetir para o irmão sempre que este vinha vê-lo.
O falcão nasceu para ser o senhor do céu, mas ensinaram-no desde cedo a gerenciar papéis e acumular coisas e ele nunca soube que seus olhos aguçados eram feitos para ver longe. No seu intimo mais profundo ele o sentia, mas não compreendia. Roubaram-lhe o seu destino. Ele nascera para os vôos mais profundos, para a mais alta das alturas, mas nunca soube e nunca saberia. Pois ainda que lhe cortassem as grades das janelas ele já se perdera em meio a todos os seus papéis e coisas acumuladas.

(rascunhado) por Adri.n

Do que está acontencendo e não se vê

Há chuva em meus olhos e uma tempestade varrendo meu peito. E minha alma olha para a janela a espera de que tudo passe. Mas a tempestade continua violenta, destruindo tudo. A alma agarra-se a alegria com toda sua força para que os ventos não a levem. Que ao menos esta permaneça para impedir o retorno da solidão...
O vento que outrora fora seu companheiro foi quem incitou a tempestade.
Ela deveria ter desconfiado. Os ventos sempre mudam de direção a qualquer instante por simples capricho e, mesmo calmo, ele era um vento.
O furacão ainda não veio, mas a alma sabe que o muro não o segurará para sempre. Resta-lhes (a minha alma e a alegria, ambas fracas) fecharem os olhos, respirarem fundo e resistirem. Tudo ficará em pedaços antes que a alma possa erguer-se
e quando tudo for apenas vazio e silêncio ela finalmente poderá juntar o que sobrar e concertar meu peito que enfim voltará a ser morada...