segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

amor de passarinhos em minúsculas e diminutivos



o canarinho vivia entre uma mangueira e um jardinzinho, porque por lá tinha tudo que precisava; migalhinhas para se alimentar, outros passarinhos para escutar, galhinhos para descançar e nenhuma gaiolinha para aprisionar. e em pouco pensava o canarinho até o "um dia" chegar.

"um dia":

o canarinho foi surpreendido por um canto novo na magueira e foi assim que ele conheceu a andorinha. ela descançava e contava sobre os lugares que voou e pousou, para as sabiazinhas e bem-te-visinhos. E a ouviu também o canarinho até o "então".

então:

o menor beija-florzinho logo percebeu uma nova fome no canarinho e deu jeito que dormissem no mesmo galhinho. não dormiram. pois assim pertinho; por muito ouviu o canarinho todas as histórias que a andorinha quis cantar. pois assim juntinho; por muito cantou a andorinha todas as histórias que conseguiu lembrar - até o raiar.

no fim da tarde se encontraram no mesmo galho e dormiram a andorinha e o canarinho, aquecendo-se com presenças. sem mais "então".

porque não?!

não construiram ninho; porque o inverno se aproximava e não eram dois canarinhos, e não eram duas andorinhas. o canarinho tinha o seu lugarzinho, a andorinha tinha o seu caminho.

e passou a andorinha, o seu outro verão, em outro jardim.
e passou o canarinho o seu inverno no seu jardimzinho.

quando mudou a estação no jardim do canarinho
quando deixou o outro jardim a andorinha

os dois se reencontraram

e encontraram confortavel galho, para cantar, ouvir e dormir.

o canarinho era feliz com a andorinha
a andorinha era feliz com o canarinho

e na mudança das estaçoes
o canario era feliz sem a andorinha
e na mudança de jardins
a andorinha era feliz sem o canarinho


até chegar um "porém" um pouco antes de um novo "então"



porém:

o que feriu o canarinho foi um gatinho que passeou pelo jardim, que pela sua natureza, seus olhos o cobiçaram e pos-lhe as unhinhas quando o canarinho abria as asinhas de fuga.

então:

a andorinha chegou, com um canto novo e feliz
em ver o canarinho
e o canarinho a escutou feliz
em ver a andorinha

apreciou o quanto sua dor permitiu. e por essa dor ouve um "quando".

quando:

o sol se abriu a andorinha pensava na distância e nas asas baixas do canarinho.
e o canarinho pensava no novo canto da andorinha
e em deixar as asas baixas para que a andorinha o visse como das outras vezes.
e a andorinha abaixou o canto para que o canario nao visse a sua tristeza pelo canario nao a receber como das outras vezes.

não aprendeu o canarinho a mostrar sua dor
não aprendeu a andorinha a reconhecer o amor

e por conta disso (e dos voos das saíras) a andorinha desaprendeu o caminho do jardim

e por conta disso ( e dos silêncios dos bicos-de-lacre) nao aprendeu o canarinho os caminhos da andorinha

e em novos verões há um canarinho e uma andorinha que não controem ninhos por causa de alguma coisinha, que nenhum pássaro ou passarinho sabe explicar ou quer pensar.

uma sabiazinha diz que o canarinho espera um canário chegar

um bem-ti-vizinho diz que a andorinha busca uma andorinha encontrar

um beija-florzinho diz que há passarinhos que são so(l)zinhos, vivem apenas para (en)cantar

mas a continuação dessa historinha só acontecerá
se um "_inho" à verso, um coração (desen)tocar







Por Adrins em diminutivos femininos de afeto