quarta-feira, 27 de abril de 2011

Imagens de vários mundos

O que faz uma pessoa cometer uma barbárie? A psicologia explica através dos genes e das condições sociais. O neurocientista James Fallon estudou os padrões de cérebros de psicopatas e ao comparar com o seu teve uma surpresa; sua mente também era de um psicopata. A constatação veio através dos padrões do cérebro e comportamento recluso, características atribuídas à “doença”. O porquê em seu cérebro a maldade nunca se desenvolveu? Boa criação, talvez... Foi a justificativa do pesquisador.

A literatura também tem suas teorias, muitas ligadas a reclusão. O solitário Meursault em O Estrangeiro de Albert Camus justifica seu crime por culpa do sol; ele tinha uma arma na mão e o sol irritou seus olhos - por isso atirou. O isolado Ródia, de Dostoievski, em Crime e Castigo, matou para se igualar aos grandes líderes: pois o que os fazia melhores era “serem capazes” tirar vidas.

Já Aléksiei de Gorki em A infância, é espancado diversas vezes pelo avô com varas molhadas - para não quebrarem. Até Harry Potter de J.K. Rolling teve o seu quinhão, não conhecendo amor maternal. Foram maltratados, mas cresceram sem “maldade no coração”.

Talvez Silas, de Dan Brown de O código Da Vinci. Seja mais explicável a psicologia, fora maltratado toda a sua infância por ser albino, até que matou seu pai, em um ato violento, mas não planejado.
Todas essas personagens são ligadas por uma característica comum; não são muito sociáveis. Falam pouco e por isso, provavelmente, não procurariam um psicólogo. Mas suas mentes são “estudadas” pelos leitores.

A literatura é imaginação e não explica os comportamentos quase na mesma proporção que os estudos científicos. Portanto, a mente humana continua sendo mistério na ficção e na realidade.
A psicologia arrisca-se em explicar e a literatura aventura-se em detalhar o que passa na mente de pessoas e personagens. E continuamos a dar atenção a estas histórias, não pela precisão, mas por que nos permitem conhecer diversos sentimentos que de outra forma estariam encubados em nossa mente para todo o sempre.

Imagino uma criança, boa aluna, que acorda reclamando à mãe que não quer ir à escola. E a mãe, boa educadora, não atende aos protestos com o melhor dos bons sensos; “você tem de estudar para ter um bom futuro”. E a criança vai à escola no dia em que a escola não lhe oferece futuro nenhum.

Texto publicado no jornal O CORREIO DO POVO em 26/04/11