segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Continuo guardando o que não me pertence

~~Guardo o que não me pertence ~~

Quando vir buscar
estarei lá
as três da manhã,
quinta-feira,
sob a chuva....

Na ausência
continuará sendo seu
até pés o guiarem,
olhos se fecharem
e eu deixar de guardar...

~~Outro~~

Diz a lenda que pertence a um coração
marcado pela bondade
reconhecível pelas cicatrizes de batalhas
e que terá forças para tirá-lo da pedra.


por Adrins
guardiã (eterna?!)

domingo, 25 de outubro de 2009

Minha vida não é uma opera

O fantasma do passado instalou-se em frente a minha casa. Estive correndo demais e não o percebi por semanas, meses... Somente hoje, quando parei para respirar o vento é que dei-me conta de sua presença - branco, translúcido - e compreendi que tenho passado por ele diversas vezes. Estive correndo muito e olhei, mas não vi. Enfim olhei o que poderia ter sido. Não pensei em pureza ou paz, vi apenas um fantasma preso ao passado.
Separados pelo espaço-tempo ele não pôde mais me tocar.
Ele não pode mais tocar o meu tempo.


por Adrins
no espaço-tempo

Meios do nada

.
Esse meio-desejo que não é capaz de fazer chorar e que não provoca sorrisos.

Esta estação do nada, de não olhar, não sentir, não decidir; de não vida.

Este muro construído para os pés não tocarem nenhum dos chãos.

Esse meio que é menos que nada.


por Adrins
(não) meio...

sábado, 10 de outubro de 2009

Sobre livros, cães e mais alguns em minha vida...



Memorial

Recordo do primeiro dia, a rua cheia de mães e crianças indo na mesma direção; a escola. E também recordo de um cachorro acompanhando uma das crianças, o meu ficara em casa. O primeiro dia das letras acontecera antes, eu desenhava cachorros e minha mãe ensinava a desenhar vogais, porque não houvera vaga para mim no jardim no ano anterior. Lembro da professora do pré, que não devolveu a guirlanda de natal de minha mãe, emprestada para decorar a sala. Lembro da dificuldade dos colegas em desenhar o nome e os números, eu já tinha aprendido, e da dificuldade da professora em escrever meu sobrenome – minha mãe teve de corrigir a pasta.
Na primeira série aprendi letra cursiva a duras penas, horas escrevendo em casa para diminuir a letra sob os olhos de minha mãe, para enfim poder brincar com o cachorro, e aprendi a escrever seu nome: Moleque. Minha madrinha comprava livros antes de eu saber ler, histórias para pintar. Depois narrativas longas que eu gostava de ouvir aos fins das tardes de domingo, nunca para dormir.
Na segunda série, em nova escola, meus colegas aprendiam letra cursiva, eu precisava aprender letra de forma. Horas em casa copiando letras de livros, do professor de catequese... Não lembro de minha mãe neste processo, lembro apenas do meu desejo.
Desejava decifrar as folhas da missa (as da escola eu conseguia, todas letras que eu conhecia), me encantava ver as pessoas lendo juntas, consegui!
Minha madrinha trazia livros, eu lia. Minha madrinha veio morar conosco, me encantava vê-la lendo livros grossos por horas a fim. Passei a ser aluna preferida das peças escolares no fim das séries inicias (em nova escola novamente), não tinha dificuldade em decorar folhas de textos, as minhas falas e as dos colegas.
Nas séries finais (mais uma escola nova) meu cachorro morreu, esqueci as duas últimas estrofes do texto do geogral (versos não ditos que lembro até hoje) e descobri o Vale Verde de Urda Krüger nas aulas de leitura. Encantou-me ler sobre o moro Jaraguá. Minha madrinha disse que não era daqui, SP também tem Jaraguá, era incompreensível para ela histórias de tão perto. Eu continuei encantada e o li em algumas aulas, até a minha professora o tirar da caixa da coleção Vaga-lume.
Alguns anos depois descobri quem era a autora e o que era a história, ainda não terminei de lê-lo, ainda desejo lê-lo, e como foi mágico descobrir que se escreve aqui e daqui. Compreendi que minha madrinha não era leitora apaixonada, somente apreciava romances de banca e livros de auto-ajuda. Mas ela compreendeu que eu era leitora alguns anos antes e levou-me a biblioteca pública, por causa de Urda. A menina tímida não pediu o livro, foi procurá-lo, existiam muitos e no não achar preferiu pegar outro, gozaram dela pelo livro que escolhi: Bruxa Madrinha. Homenagem! Disseram. Não deixou de ser. Madrinha-bruxa-boa que abriu o mundo dos livros com suas pequenas poções (em pequenas porções) que aprendi e passei além. Bruxa Madrinha falava de magia e de realidade social, uma bruxa que vigia uma menina de favela (numa época que ainda não era moda) e tenta intervir em suas dificuldades porque queria uma afilhada para ocupar-se. Parei de ler sobre cachorros e histórias de amor, descobri os livros “pensantes” livros críticos que me faziam saltar o coração. Aprendi muitas línguas de muitos livros e não conseguimos mais conversar sobre eles; já li seus romances com prazer, ela continua lendo. Minha mãe não me deixou ter outro cão, adotei gatos, pretos!
No ensino médio tentei escrever, tinha problemas com poesia, passei a recebê-la quase todos os dias antes da universidade e quase todas as semanas durante. Consegui uma chinchila, meus gatos morreram, meu filho nasceu e fiz as pazes com os poemas de minha vida. E deixei-os ir, descobri minha própria poesia e com ela minhas letras.
Conheci escritores do meu chão, e a literatura infantil. Saboreio ler e criar histórias com e para meu filho. Encontrei amigos de escrita e de leitura para o meu dia-a-dia sem hora ou lugar (nas madrugadas de descanso, a luz da lua, debaixo de cobertas; nos dias de sol sobre o gramado, debaixo de árvores; nos intervalos do dia no msn, orkut, telefone...) para ler Drummond, Carpinejar, Neruda, Clarice, Manoel de Barros, Galeano, Cortazar, Bukowski e quem mais vir nos visitar. Para falar de e com histórias e criar histórias; nossos próprios escritos, na ficção e na vida. “Dividimentos” tímidos mais confiantes, de textos nascidos em nossos corações que ainda precisam ser regados.
Descobri uma irmã de letras, sorrisos e aprendizados compartilhados dia a dia ainda que seja preciso ler ao telefone de madrugada. Pequenas visitas de meu filho nestas descobertas, textos nascidos pela existência dele.Textos lidos na escola, sementes de possibilidades encantadoras ao desafiá-los a encontrar suas próprias letras e poesias.
Vivo no mundo dos livros entre o real e a ficção, já não os separo e nem preciso. Descobri que posso escrever, descobri amigos que escrevem, instigo alunos a escrever, e um dia, talvez, meu filho. Respiro prosas e versos num mundo imenso/intenso onde muitos tem o mesmo respirar, cada qual a sua maneira. Adotei um vira-lata para meu filho...


por Adrins com livros e cães

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

In son ia


Ele falou de sonhos

e agora não consigo mais dormir

por Adrins ...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Para Lenini Casemiro, pelo seu dia, seu mês e sua existência...








“A maternidade não repousa no sobrenome, nos traços, no molde genético;
é um escapulário debaixo da camisa que não se vê. Uma pitanga,
em que o caroço é quase do tamanho da fruta”

Carpinejar

O poeta-filho falou-me da força da mãe com tempo para tudo, com tantas coisas e tão amorosa aos filhos. O poeta-filho não entende que ter um filho não é sacrificar ou dividir, mas somar ele em sua vida.

Ter um filho significa crescer no mais profundo valor desta palavra: crescer por dentro. Melhorar todas aquelas falhas suas que ficavam nas promessas de fim de ano. Porque não tem mais desculpas. E crescer sem faz-de-conta porque seu filho está dentro do ventre e ouve e sente o mesmo que você. É aprender sem preguiça, porque o tempo de ensinar já esta aí. E você cresce e passa a gostar de tantas pequenas coisas que não gostava ou não admirava mais. E fica imaginando como é olhar o mundo pela primeira vez, tenta olhar o mundo pelos olhos dele, sentir o mundo como ele sente.
E você volta a ser criança. E de repente a casa, o trabalho, os amigos ganham outra cor e você arruma tempo para fazer tudo (mesmo sem dormir, porque descobre que pode dormir muito menos do que pensava que poderia), e faz tudo com mais alegria, porque ele existe, e cada percepção sua, vem carregada do sentir dele, ainda que no faz-de-conta. E você o vê repetindo sua fala, seus gestos, e você repete seus olhares, seus anseios, você nunca mais estará só, porque sua vida está carregada da existência dele.
Ter um filho é crescer por mais duas vezes, da primeira você cresceu com seus pais, da segunda para seu(s) filho(s) e da terceira com seu(s) filho(s).
Ter um filho é crescer por amor...


por Adrins (re) crescendo