domingo, 25 de dezembro de 2011

O que conto sobre a natalidade


Olhou-se no espelho a procura dos lábios quase perdidos entre a espessa barba branca.
Três meses sem cortá-la e ele não mais se reconhecia,
quando se encontrava com o espelho.
Seus olhos escuros viam um ser que não pertencia ao seu mundo.
Não refletia sobre a sua imagem
deixara de sentir-se quando a barba começou a crescer.
Não pensava em como os dias seguiriam.
Fugia do nervosismo e da consciência do desconhecido à esta altura de sua vida.
Parou de pensar nos seus afazeres antes da aposentadoria,
não queria ficar alto para falar dos bons tempos,
não desejava mais dar o exemplo do seu brilhantismo de vida.
Passara a levantar cedo, evitar o álcool e o mau humor.
Não se dava conta que desde que sua barba começara a crescer
começara a morrer sua difícil personalidade.

Olhou-se no espelho a procura dos lábios, doloridos, temendo mortes.
Encontrara apenas a barba e o homem que seria nas próximas semanas,
tirara a roupa quente do armário para suar na curta caminhada sobre o sol.
Não usou de consolo as horas que passaria no ar condicionado,
não se deu conta que estava descondicionando-se.
Não pensou em dar conta do trabalho, não ia para um trabalho. – Parto.
O que começara a forma-se nos últimos três meses,
nasceu no instante que se sentara na poltrona vermelha.
Não se sentia o ator que sonhara ser na juventude - perdido no mundo para crescer, sentia-se verdadeiro, vindo do pólo,
sentia seu norte.
Seus olhos não eram mais escuros,
E os lábios desatrofiaram-se da falta do sorriso.
O tempo passou rápido.
o que era filho levou o que ainda é, para ver o pai de noel
(o filho que nada viu, por ser agora o pai)
O pequeno puxou sua barba a procura do sintético,
arrependido, pediu o vô no tempo presente
E ele prometeu -se ao neto para o futuro.