Há alguns anos em meu curso de línguas, entediada com as temáticas pouco criativas das redações, perguntei a minha teacher se poderia iniciar um romance para os deveres de redação, e assim surgiu essa estória. Nos últimos meses ela tem me perseguido a procura de papel para morar e enfim, ainda que meu coração anseie por estórias mais profundas, não suportei mais e tive que reescreve-la. Tentei reestrutura-la fora dos contos de cavalaria, mas ela já havia nascido e não tinha como negar seu berço. Enfim criei coragem para posta-la aqui com um agradecimento especial a minha amiga Déborah que tem me impulsionado a continuá-la: é a você – Déborah – que dedico esse romance infanto-juvenil (como tu, minha melhor e quase única crítica, a classificaste) prometo que em breve continuarei os capítulos...
Coração de Valentin- Parte I
Cada pessoa é única e isso faz dos homens mais humanos ou mais rudes por uma simples diferenciação da natureza. Nunca existira um homem que pense como outro, não importa quanto possam gostar das mesmas coisas, terem vivido as mesmas experiências ou tenham nascido juntos, nem que séculos ou milênios passem. Jamais voltará a existir uma alma que já viveu. Essa é uma verdade simples que torna cada vida especial, e que não provoca sentimento algum à humanidade. Mas para nós, o povo da torre Azul, é uma verdade triste que só significa uma única dor: jamais renascerá um homem como Valentin...
As palavras faltam-me, quando me perguntam sobre ele, numa mistura de orgulho por tê-lo visto crescer e de dor por saber que jamais o verei novamente. Estou velho e o tempo me é curto. Que a rainha da vida me permita forças para completar esse relato, das coisas que vi e que não desejo que se percam com a minha morte. Que minhas lágrimas evaporem antes de tocar o papel em que escrevo e que o senhor meu rei, e meu sempre amigo, providencie um bom lar para essa história. Que ela seja lida por todos e ninguém jamais esqueça de um grande coração. E que ao coração de quem lê essa história fale, não as minhas palavras, mas sim da bondade de Valentin. Por que quem escreve é apenas um velho guerreiro que há muito admira os grandes domadores das palavras, mas que está muito velho para aprender este ofício, por isso, peço perdão pela ousadia. Só o faço por que acredito que esta história mereça estar nas estantes de cada reino para que as pessoas, ao lê-la compreendam o Valentim de dentro de seus corações e o deixem sair.
Eu sou Serafim, e por muitos anos servi ao rei deste reino com lealdade, não por juramento, mas por admiração e amizade. Nossa majestade, o rei Bonifácio, juntamente com nossa amada rainha Lia, sempre governou com justiça e sabedoria. E não houve noite que, após os últimos treinos, a caminho de meu quarto eu não os encontrasse conversando sobre os problemas do reino, sentados sobre o luar que atravessava a janela da biblioteca. Não havia decisão alguma que o rei tomasse sem consultar a rainha e não havia coisa alguma que a rainha soubesse que não chegasse ao conhecimento do rei.
Minha função como primeiro guerreiro consistia em treinar aqueles que desejassem serem guerreiros nas artes das armas e do conhecimento, contudo, nunca houve uma batalha entre outro reino em meu tempo. Havia um jovem em que eu admirava como filho e a ele dediquei mais atenção. Permanecíamos sempre após os treinos discutindo lógica e filosofia, ao meu estimado Justo eu ensinava tudo que sabia e podia, na esperança de que ele um dia substituísse meus ossos gastos.
A rainha amava as artes e, principalmente para agradá-la, o rei mantinha uma vasta biblioteca no castelo. Sempre que tinha chance eu procurava ler alguns deles, e era lá que passava os meus melhores momentos, quase todos os dias. Numa manhã deparei-me com Rosa, a mais linda flor do reino, sobre a luz da aurora, lendo um livro de poemas e me apaixonei por ela. Por muitas vezes nos encontramos sobre o despertar do dia para nos aventurarmos entre os livros, como ela costumava brincar. Até que finalmente declarei-me a ela e pedi sua mão. E aos fins de tarde encontrava-me com nossos governantes para fala-lhes sobre meus aprendizes. Era um grande prazer para mim ir vê-los e permanecer ao seu lado. Ao escurecer a rainha retirava-se, e o rei e eu permanecíamos a conversar noite adentro, eu era para ele um igual e sentia muita alegria pela sua amizade.
Essa foi minha rotina por anos até aquela primeira tarde em que encontrei somente o rei, muito nervoso, olhando pela janela. Era uma sala ampla e me pareceu terrivelmente angustiante ver o rei só e abatido, até os livros me pareceram sóbrios demais enfileirados em suas prateleiras. Aproximei-me respeitosamente e ele olhou-me angustiado:
- minha rainha... ela teve um desmaio esta tarde. Ana disse-me que ela tem passado mal há dias, estou preocupado Serafim...
Eu, que nunca dominei as palavras de conforto, permaneci calado e me aproximei, preocupado. O rei precisava exteriorizar seus temores e esperei que falasse:
- O curador está no quarto com ela desde o desmaio e as damas não me deixam entrar e não me dizem como ela está... acha que pode ser grave? Se acontecer algo com ela....
- Tenha calma meu senhor... um desmaio pode significar muitas coisas, e nossa rainha sempre foi muito forte. Há de ser apenas cansaço, alguma outra coisa que pode ser curada com repousos.
Neste momento uma das damas, Sara entrou e com um sorriso nos lábios, não pode conter sua língua:
- Que Deus permita que ela não seja curada, meu senhor.
A rainha vinha atrás dela e riu de sua observação, aproximou-se do rei, que encarava Sara, e sussurro algo em seu ouvido. A expressão dele suavizou-se e ele riu, a ergueu e a rodopiou e subitamente parou, colocando-a no chão com cuidado com medo que a tivesse machucado, mas ela simplesmente voltou a sorrir:
- Está tudo bem, meu querido, eu não estou doente.
E virando-se para mim que era o único presente que olhava confuso para as damas que chegavam e riam baixinho falou:
- Serafim, por favor, permita com que esta fofoca, que minhas damas certamente espalharão pelo castelo, com grande alvoroço, chegue a todo o reino. Dentro de oito meses o reino ganhará um príncipe.
As damas não contiveram seus risos ao me verem estático em frente à rainha, sem saber o que dizer, foi minha doce Rosa que guiou-me sussurrando ao meu ouvido:
- você pode sorrir se quiser e agora se despeça e deixemos os jovens pais a sós....
E foi o que fiz, a alegria deles era minha também e já me via ensinando os movimentos da espada a um pequeno garoto de cabelos escuros.
Os dias nunca mais seriam os mesmos. Na primeira semana as damas se mantiveram muito ocupadas em contar e recontar o quanto o rei e a rainha sorriam e como ele não a deixava por mais de minutos. Mas nem por isso o reino deixou de ser governado e administrado, apesar de magicamente as discussões que necessitavam da interferência do rei diminuíssem. E o que mais se falava nos corredores do castelo era com quem o bebê se pareceria.
Eu ainda ia à biblioteca, aos fins de tarde, para conversar com o rei e a rainha, mas agora, quando ela se recolhia ele a acompanhava e eu passei a adquirir o habito de ler algumas páginas de alguns livros antes de recolher-me. Na maioria das vezes não os retomava e a cada dia iniciava uma nova leitura até que Rosa pediu-me autorização, como se precisasse, para acompanhar-me e passamos a fazer leituras conjuntas. Aprendemos muito naqueles meses, e muito do que li deu-me forças para a pior noite de nossas vidas. Que a cada dia se aproximava sorrateira, como uma alma invejosa arrastando-se por entre as sombras da felicidade a espera de uma oportunidade para destruí-la.
Rosa e eu estávamos cada dia mais apaixonados e a cada dia nossa angustia era maior ao nos separarmos para nossos quartos e aguardávamos com tanta ansiedade quanto aos reis o nascimento do herdeiro para finalmente nos unimos perante Deus e os homens. Por algum motivo jovial que me escapa a memória, decidimos esperar o nascimento na intenção de fortalecermos ainda mais nossa vontade, espera essa, acreditávamos, que nos proporcionaria maior felicidade quando finalmente o dia chegasse.
Nossa rainha apreciava muito a companhia de Rosa e lembro-me de uma noite em que ela nos interrogou sobre nosso amor, diante do rei, olhando em meus olhos:
- meu senhor, o que tanto pedes ao primeiro guerreiro que a ele não sobra tempo para selar, enfim, seu amor pela minha melhor amiga?
- posso dar a ele o tempo que pedir, para algo tão esplendido.
Ao que eu, diante da reposta do rei corei, e foi minha querida Rosa que em meu socorro desculpou-se com um pequeno riso nervoso:
- vossas majestades são muito gentis, mas tenho que confessar que a culpa também é minha, por querer uma data que está tão longe.
- E por que desejas esperar tanto, se o que uma mulher mais deseja é carregar o nome daquele que possui seu coração?
- A data me é muito cara, minha senhora.
- Se a considera tão importante não tenho o direito de intervir, mas sinto a obrigação de lembrar que nenhuma data pode ser mais importante que o sentimento. E não é sempre que a espera trás alegria.
- mas as nossas com certeza trarão, minha querida. E permita-me oferecer uma grande festa para comemorarmos juntos, o amor de nossos mais estimados amigos e o nascimento de nosso já amado filho.
Disse o rei feliz, acariciando o ventre da esposa que em quatro meses crescera bastante, ao que todos diziam que o amor de ambos e de todo o reino para com a futura criança o fazia crescer como uma planta bem cuidada. Quanto a mim, vi-me mais vermelho do que nunca:
- é uma grande honra, meu senhor...
- não permitirei recusas – disse o rei, tocando meu ombro e olhando-me nos olhos – vocês serão os padrinhos de nosso filho, eu não o confiaria a mais ninguém.
E a nos só restou agradecer com lágrimas nos olhos, emocionados e felizes.
No último mês de gravidez Rosa me confidenciou que uma sombra parecia pairar sobre o semblante da rainha. Logo ficou evidente a todo o reino que algo a preocupava demasiadamente, todos o atribuímos ao nervosismo e ansiedade e o rei passou a cercá-la ainda mais de cuidados e delicadezas. Até chegar o dia em que soubemos o horror inominável que aproximava e a rainha não tinha coragem de confidenciar a ninguém.
O rei acordou assustado dizendo que a rainha sentia dor, o curador foi chamado, mas não encontrado, Ana o tranqüilizou dizendo que era normal e que até o fim do dia a criança nasceria. Naquele dia o reino parou, como se nem mesmo uma folha tivesse despencado de alguma Árvore. Só recordo-me que ao fim da tarde uma pequena chuva se anunciou. Já era noite, e apesar da chuva não ser violenta alguns trovões e raios apresentaram-se aumentando o angustia do rei, que desde o inicio da tarde andava de um lado a outro em frente ao corredor de aceso ao quarto, único lugar que nos permitiram ficar, com os nervos cada vez mais danificados a cada movimento de Ana, Rosa e Sara. Quando uma delas entrava ou saia do quarto, ele parecia mais angustiado. Ao ponto que Rosa pediu que todos se retirassem, para deixar o rei mais a vontade e trouxe uma taça de vinho, que tive de insistir para que tomasse.
- não quero alterar meus sentidos...
- meu senhor, seus sentidos já estão alterados há muito tempo, isso o ajudará a controlá-los.
Finalmente, após seu segundo gole, ouvimos o choro insistente do recém nascido e o rei correu para o quarto, derrubando a taça, e ouvi sua voz, num misto de angustia a fúria, no corredor:
- o que está dizendo?!
Quando me aproximei, com o coração aos saltos, Rosa estava posta no meio do corredor de braços abertos e falava quase num sussurro.
- por favor senhor, tem de aguardar mais um pouco...
- por quê? O que está acontecendo?
Foram alguns minutos intermináveis, em que o silêncio pareceu tomar conta do mundo e podíamos ouvir nossas respirações, até que o choro recomeçou e Rosa, com angustia nos olhos, olhou de mim para o rei até conseguir balbuciar:
- meu se... senhor... eu...
Então ouvimos um segundo choro de bebê, os olhos do rei ficaram graves e Ana saiu do quarto, o rei virou as contas para as damas, mas eu pude ver sua expressão quando ela anunciou:
- são dois lindos bebes, meu rei
Foi como se sua face perdesse a vida e me senti vendo um morto falar, olhando para o vazio:
- Serafim. Mate-o.
O sangue de nós três congelou e nos vimos cada qual mais pálido que o outro. Rosa falava com se não fosse capaz de pensar:
- senhor, meu rei... são...
- leve o segundo, não me obrigue a fazê-lo por minhas próprias mãos. MATE!
Seu grito tirou a todos do transe, sabíamos que o rei, apesar dele nunca ter cometido maldade alguma, estava decidido a aquela crueldade terrível. Por segundos minha cabeça girou e, incapaz de pensar, avancei em direção ao quarto sem sentir meus passos, não vi Ana postar-se a minha frente antes de eu empurra-la, não olhei para os olhos assustados da rainha e de Sara que ouviram o grito do rei e desviei o olhar do segundo bebê que estava em seus braços. No berço, ao seu lado, repousava o primogênito e foi este que agarrei com todo o cuidado e o carreguei do quarto, o mais rápido que pude, desviando dos olhos suplicantes de Rosa, de seus gritos a me chamar e da rainha a clamar por outro nome. A única vez que chamaria seu bebê pelo nome. O rei não ousou olhar para nós, dirigi-me a coxia ainda acompanhado dos gritos que ecoavam em minha mente: de Rosa, da rainha e do choro do outro bebê. O que eu tinha em meus braços parecia aninhar-se, tranqüilo e em paz.. Tudo parecia um terrível pesadelo e eu corria como um animal sem cabeça.
Enrolei o bebê cuidadosamente para protegê-lo da chuva e seus olhos fixaram-se nos meus e ele dormiu, segundos depois que meu cavalo disparou conosco, sem temor algum. Em minha cabeça só rodopiava uma certeza, a de que se ele ficasse aquela noite no castelo, não amanheceria, precisava levá-lo para longe, até as coisas acalmarem-se. O rei voltaria ao seu espírito e o procuraria, então voltaríamos e todos esqueceriam da terrível maldição. E acalentado por este pensamento, foi que sai cavalgando no meio da escura chuva, com o pequeno em meus braços e eu curvado sobre ele para que minha capa o protegesse da tempestade. A medida que me afastava do castelo os relâmpagos diminuíam, a chuva afinava, mas meus pensamentos continuavam num turbilhão. Contudo, cada vez que eu olhava para o menino e o via dormir quentinho e tranqüilo sentia, confortado, que ele confiava em mim e meus pensamentos iam clareando.
O temor da maldição perdera-se na lembrança, mas voltaria com toda a força quando o reino soubesse da existência dos dois meninos, assim como tomou conta do rei. Então arquitetei um plano, faria com que todos pensassem que ele morreu e quando o reino estivesse tomado pelo luto voltaríamos, e todos festejariam e se esqueceriam da maldição.
Na floresta, encontrei uma cabana de caça aconchegante e pus o bebe sobre uma cama de palhas secas e macias, rasguei minhas vestes, enrolei alguns pedaços nos arreios do cavalo, tirei a montaria e o espantei. Ele saberia retornar ao castelo e quando todos a vissem imaginariam o pior. O bebe abriu os olhos quando me aproximei e deitei ao seu lado para melhor aquece-lo. Sua mão estava quente e ele voltou a dormir.
Na manhã seguinte acordei com uma criança de sete anos em minha frente gritando:
- PAI!!!
Um homem de meia idade apareceu na porta da cabana e olhou-me surpreso.
- o senhor deve morar aqui, peço desculpas pela invasão, ontem chovia...
- não diga mais nada. Esta cabana pertence a todos...
Nisto o pequeno interrompeu-nos e começou a chorar. O garoto se aproximou:
- ele está com fome.
- meu Deus, preciso alimentá-lo.
- Então venha comigo e eu os levarei a aldeia.
Durante longas duas horas em que a carroça sacolejava na pequena estradinha e o bebe chorava agora a plenos pulmões, o homem não perguntou quem eu era ou de onde viemos. Era um homem simples que não precisava de explicações, disse apenas seu nome, Olívio, e falou de suas funções de marceneiro.
Quando nos aproximamos de sua aldeia as mulheres ouviram o choro e correram em nossa direção, logo ele era alimentado por elas e quando perguntaram seu nome lembrei dos gritos da rainha:
- Valentim...
Devo ter denunciado meu estado de espírito porque não me perguntaram mais nada e me ofereceram comida. Olívio disse que se eu estivesse disposto a ajudá-lo poderia ficar com eles e que a esposa ajudaria a cuidar do bebe. Eu nunca ficara muito tempo longe do castelo e ninguém me reconheceu, comovido pela generosidade daquelas pessoas decidi revelar o que podia. Disse que não era pai do menino, mas amigo de seus pais e que tentava salva-lo. Minhas roupas rasgadas às fizeram imaginar o resto e por uma semana ajudei Olívio e se família no que podia, dormia com eles e sua esposa cuidava de Valentim a maior parte do tempo, mas considerei que era injusto aumentar suas obrigações e a pedi para ensinar-me a cuidar dele, explicando que se eu era responsável por ele era minha obrigação cuidar dele, ela passou a me ensinar, mas não saia de perto de nós.
A aldeia ficava muito longe do castelo e só tinha-se notícias do reino no fim da semana quando alguns iam vender ou comprar. Ao quarto dia um aldeão retornou com as notícias: o herdeiro havia nascido, era um lindo menino, mas o reino não comemorava, estava de luto pela morte do primeiro cavaleiro, que saira no temporal a procura do curador e não retornara. O aldeão contou em detalhes como a rainha tivera um parto difícil e como o cavalo do guerreiro voltara, mas não mencionou uma palavra sobre o segundo bebê e eu finalmente aceitei o que não desejava acreditar. Ninguém mencionara a existência de gêmeos e neste momento apenas quatro pessoas no reino acreditavam que um príncipe estava morto. Enquanto ele respondia as perguntas dos aldeões fiquei a me perguntar como pude ser tão estúpido a ponto de acreditar que o rei mencionaria Valentim. Portanto o problema se tornara maior, se retornássemos como explicaríamos a existência de um bebê que o rei não mencionara. Mas o coração jovem é ingênuo e está sempre cheio de entusiasmo e ilusão a boa vontade dos homens e minha imaginação estava fértil. E imaginei uma estória mirabolante com um ladrão de bebês e eu a procurá-lo sem o conhecimento do rei. Daria certo, só precisava falar com Rosa, ela me ajudaria. Não queria levantar suspeita e esperei até o próximo aldeão ir ao castelo e me ofereci a ajudá-lo com a desculpa de que precisava comprar tecidos e roupas para mim e o bebê. Nos separamos na feira e quando me dirigi ao castelo a vi em uma carruagem de viagem de cabeça baixa e mãos dadas com um jovem que nunca vira e ouvi a conversa de duas mulheres ao meu lado:
- é a noiva do primeiro guerreiro?!
- Era. Ouvi as damas da rainha dizerem que ela iria para o reino da terra vermelha com um conselheiro daquele reino, deve ser aquele lá.
Não derramei uma lágrima, mas meu coração se partiu, esperamos tanto para nos unirmos e agora esta felicidade nunca se realizaria, ela não esperara para partir com outro. Foi com olhos cegos que voltei a carroça do aldeão, cheguei a vila, entrei na casa de Olívio e só voltei a ver e ouvir quando meus olhos encontraram os de Valentin e ouvi seus resmungos. Não sabia o que fazer e meu único desejo era cuidar dele.
E assim vivemos...
Construí uma cabana ao lado da de Olívio e nas primeiras noites sua esposa relutava em nos deixar dizendo que o menino precisava de uma mãe, mesmo que fosse substituta. Até a manhã que nos acordou, disse que vira como dormíamos e que sentira que eu cuidaria bem dele. Mas de qualquer modo sempre estava nos levando algo. Margarida fez-se mãe de Valentin. Mas não foi a única, desde o inicio todas as mulheres da vila compadeceram-se por nós dois e à medida que o menino crescia encantava a todos e conquistava a amizade das crianças. Valentin também teve muitos irmãos.
E cresceu: forte, valente e generoso. Não me lembro de um única briga em sua infância, de nenhum gesto de egoísmo ou grosseria. No entanto metia-se em problemas com freqüência, junto com o filho mais novo de Olívio que nascera um ano mais tarde, Silvestre. Os dois tornaram-se inseparáveis e sua amizade e cumplicidade alcançara a juventude.
Posso contar nos dedos, e eles ainda sobram, as vezes que retornei ao castelo. Como era normal a aldeia saber sobre o que se passava com o reino sempre soube a distancia como o príncipe crescia; maroto e generoso. Justo fora nomeado o novo primeiro guerreiro alguns anos mais tarde e antes dele dois guerreiros foram desaprovados pelo rei que parecia ter ficado mais exigente e genioso. Corria o boato que nem mesmo a rainha apreciava mais sua companhia, passando o tempo com o filho. Outros diziam que devido a este excesso de mimo que o rei, enciumado, tornara-se amargurado. Mas a família real era amada pelo seu povo e passados os primeiros meses de mudanças o povo acostumou-se a nova rotina real e parou-se de se falar da vida pessoal dos soberanos, havia muitos nobres com motivos mais picantes para terem suas vidas comentadas a todo instante.
Continua, neste mesmo "bat-endereço", um dia desses...
por Adri.n
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