quarta-feira, 26 de março de 2008

Alguns sonhos merecem serem contados...

Quem me conhece sabe o quanto os sonhos fazem parte de minha vida. E bom mesmo é quando algum anjo criativo constrói estórias em meus sonhos. Este aqui me encantou tanto que quando acordei corri para registrá-lo antes de esquecer algum detalhe. Não senti o mesmo que quando sonhava, mas ainda assim é uma linda estória:

Um homem e um pássaro

Um homem, admirador de pássaros, passava as tardes a vê-los pendurados nos pequenos galhos de capim, beliscando suas sementes. E aproximava-se devagar, o mais silenciosamente que conseguia, para vê-los mais de perto. E quanto sentia que estes paravam de alimentar-se e erguiam suas cabecinhas, recuava para não atrapalha-los em sua refeição. Com o tempo os pássaros se acostumavam ao homem e seus corações não se agitavam mais quando o viam se aproximar.
Aconteceu que um dia ele tropeçou e quase caiu em frente aos pequenos, que voaram em alvoroço antes que ele terminasse de se desculpar: não tenham medo, me perdoem, por favor, não se vão. E então seus olhos deram com os olhos de uma dos pequenos que permanecia agarrado na longa folha que balançava cada vez mais com seu coração agitado. E os dois se apaixonaram.
De inicio a avezinha se aproximava e quase pousava em seu ombro quando chegava o homem, que não via mais nenhum pássaro além de sua doce amiga. Até que chegou o dia que o homem não foi ao capinzal e a ave, sem fome, voou e voou até avistá-lo dentro de uma janela coberto por estranhos panos. E a pobre se desesperou, imaginando que ele estivesse morto e pôs-se a bater-se contra o vidro tentando inutilmente entrar. O homem abriu os olhos e cambaleou até a janela, com esforço conseguiu abri-la e a pegou entre as mãos: o que está fazendo, minha pequena, podes se machucar. Ao que esta fechou os olhos lentamente e cantou: você não vi, agora vejo, está bem! E dormiram na mesma cama até o homem sarar.
E depois não se largaram mais, para onde o homem ia a ave o seguia voando baixo ou pousada em seu ombro e aos fim de tarde ficavam juntos, com ela acomodada em suas mãos quentes, a observar o pôr do sol. Os amigos achavam tudo um exagero, as mulheres encantador. O homem casou e com o tempo a mulher passou a ter ciúmes da ave, dizia que ele passava mais tempo com esta que com ela. E o homem, temendo alguma maldade da mulher, disse que se alguma coisa acontecesse à ave, ele se mataria. A mulher fugiu com outro e ele e o pássaro passaram a viver sozinhos. De vez em quando esta lhe trazia outro que estava ferido e o homem aprendeu a cuidar de pássaros como ninguém.
E foi por sua fama que um aprendiz o procurou para. Este nunca aprendeu a falar com as aves como o homem, mas compreendia o amor que existia entre ele e ave. Um dia o homem, já velho, foi encontrado morto sobre a grama do jardim. Ninguém notou o pequeno pássaro sem vida, ao lado de seu corpo, quando o levaram para o caixão. Mas o aprendiz pegou o pequeno corpo, ainda quente, de penas brancas e tão esfarrapadas que poderia se dizer que fora a ave mais velha do mundo, não soube precisar se o homem morrera ao encontrá-la sem vida ou se ela finalmente deixara a vida para acompanhá-lo. E quando ninguém via acomodou o pequeno corpo sobre o coração do homem, escondido entre as flores que decoraram sua última cama.

Por algum anjo contador de histórias em visita aos sonhos de Adri.n

4 comentários:

ítalo puccini disse...

belíssimo relato, Adri!

escrever é lapidar, é dar ao entusiasmo a dor de que ele necessita para se aperfeiçoar ^^

beijos,
Í.ta*8

Anônimo disse...

Gostei! Lembra-me a história do rouxinol australiano. Pequeno conto, lembrança de um sonho fugaz mas que contém reflexos de um grande desejo, e que carrega em si uma mensagem de profunda grandeza; uma mensagem sobre amizade e fraternidade entre homens - animais (ir)racionais - e seus pares - não tão irracionais assim, não é?. Déborah Amorim

Adri.n disse...

tu me conheces mais que minha mãe...
para mim os animais sempre foram almas que acalantam meu coração, seja por conhece-los ou por observa-los.

Um dia desses eu escrevo a história de amor de meus dois gatos apaixonados, é uma novela mexicana... : P

Jeison Giovani Heiler disse...

Muito bom o teu conto adri. Tocante!
Vc está escrevendo melhor a cada vez.
Parece mesmo uma fábula.

Abraços!

Jei