O pai tinha um segredo que achava muito feio, era grande, cabeludo de olhos grandes e unhas compridas. Tinha muito medo que alguém o visse então comprou um armário bem grande o pôs no sótão, e trancafiou o segredo lá dentro sob chaves e cadeados para que ele jamais escapasse.
Mas os segredos adoram passear em meio a multidão, andando ao lado de um e de outro, os fazendo rir, com quantos mais puder. E o segredo do pai se sentia apertado, com medo de escuro e da solidão. Por sorte, ou não, o armário ficava bem a cima da cama do filho e quanto este começou a ouvir o sono do menino, arranhava as paredes e batia no chão e o filho acordava guiado pelos ruídos. Louco de curiosidade levantava-se e andava pela casa a procura do som. E o pai acordava, o barrulho silencia e o filho voltava a dormir.
Dentro de uma semana o filho descobrira de onde vinha o ruído e quando o pai o viu com a mão na massaneta da porta, do sótão, gritou! Disse ao menino que ele não deviria entrar, que era perigoso, que um mostro fora morar lá.
Assim, na noite seguinte, quando o garoto ouviu o ruído seguido de uma voz rouca pronunciar seu nome, pois o segredo já sabia que o filho quase o achara, gritou, desesperado. Foi a mãe que o acudiu e repetiu até cansar, que não havia monstro nenhum na casa, e que monstro tem mais o que fazer que maltratar as pessoas. Duvidar eles tem medo de gente já que os ouvimos, mas nunca os vemos. O filho por fim se convenceu e quando novamente ouviu o ruído tímido,vindo do sótão, a curiosidade redespertou tão forte que arrastou o filho e o medo até a porta, a abriu, e os empurrou lá dentro dando voltas em roda do armário e apontando: está aí! está aí!
O filho abriu o armário com as mãos tremulas e o segredo do pai saltou, feliz, agradecendo a curiosidade e pedindo ao medo que por favor não o prendessem lá dentro outra vez. O filho adorou o segredo, o achou “tão maneiro” que o levou para dormir com ele no quarto, e no outro dia saiu à rua de mãos dadas com ele. Passaram tanto tempo juntos que quando a mãe o viu pensou ser o segredo do filho e apesar de não gostar dos cabelos desgrenhados e das unhas compridas deixou que eles brincassem com a vizinhança. E o segredo do pai correu a rua, o dia todo e não ouve um que não se simpatizasse com ele.
Quando o pai voltou do trabalho e viu seu segredo correndo com seu filho e as crianças do vizinho, ficou branco, vermelho, amarelo e quase desmaiou. A mãe disse que não era para tanto caso, que os segredos das crianças de hoje são assim mesmos. Eles é que tinhas segredos anões, bem vestidos e fracotes, hoje é tudo diferente. E que o segredo grande e cabeludo do filho era muito mais normal que aqueles pequenos que eles um dia tiveram. O filho puxou o pai pelo braço e pediu se o segredo poderia ser dele e o pai, guiado pelo medo e pela vergonha, que se escolhiam em seus bolsos para não serem vistos, entre andar com a vergonha de ter um segredo cabeludo e feio ou de um filho com um segredo cabeludo e feio acabou dizendo que sim.
Mas quiseram cortar seus cabelos e lhe aparar as unhas, e o segredo fugiu, para dentro do armário. Só saindo à noite, para brincar com o filho.
por Adri.n
5 comentários:
Adri,
seja bem vinda ao mundo dos blogs
serei um visitador frequente por aqui.
Abraço no filhote e no maridão!
Hum que bom que teremos mais esse espaçoa para trocar figurinhas.
Parebéns pelo texto. vou oltar com certeza. Um abraço.
Oi Adri boa iniciativa viu...mto bom!!!! bjus
O segredo do armário esconde segredos que habitam as profundezas da alma de adriana
quem se atreverá a desvendá-las?
não percam as próximas postagens!!!
Profundezas de profundidades abissais, diga-se de passagem (peço perdão pela redundância). Gostei do conto, pequenino de grande profundidade; para refletir ...
Vc realmente me espanta: cada vez que leio algo seu, mais me certifico de que há uma grande escritora aí. Deixe-a liberta. Ela merece!!! Beijão , Déborah
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