sexta-feira, 25 de julho de 2008
Coração de Valentim Parte III
Valentim entrou em nossa cabana correndo e parou para ver o crepúsculo e meu coração quase não me permitia ouvir minhas próprias palavras:
- Valentin...
Ele olhou para mim ainda de máscara, se dando conta dela, tirou-a e sorriu:
- É como história que me contou mestre, ele é igual a mim e tem bom coração.
- Imagino que sim.
- não, o senhor não viu... acho que quase ninguém viu... mas eu sim. Ele deu seu brinquedo a um menininho que não parava de olhá-lo. Aí, quando recoloquei minha máscara e voltei a observá-lo vi que ele fazia sinal para que o menino não dissesse nada. Ele tem bom coração. E eu sou muito feliz de ter um irmão assim.
- Poderia ser você lá.
Ele arregalou os olhos:
- Toda aquela multidão e aquela cerimônia é assustadora só de se olhar quanto mais ser o centro dela. Sou feliz por não ter de viver assim.
- Fica feliz?!
- Que bom que ele tem ela.
- Ela?
Ela abaixou os olhos:
- ...nossa mãe.
Aproximei-me dele e toquei seu ombro:
- Valentim... acho que é perigoso ficarmos tão próximos do castelo com a semelhança de vocês, seria melhor partirmos.
Ele olhou-me angustiado.
- Afastar-me de meu irmão?
- Você não poderá nunca...
- Falar com ele, eu sei! mas posso vê-lo e saber dele. E deixo meu cabelo crescer e logo terei barba, ninguém notará porque ninguém sabe que eu existo. Se ficamos aqui até agora e nada aconteceu, porque partir?
- Eu fui imprudente
- Mestre...
O medo e angustia me impulsionavam e juntar nossas coisas naquele momento e fugirmos como se estivessem nos perseguindo, mas entre meus instintos estava o desejo dele e sob seu olhar de suplica não tive forças:
- Preciso refletir sobre isso...
Ele respondeu-me com um abraço alegre, como se eu já tivesse concordado, e nada mudou em seu semblante. Eu não dormi com todos aqueles pesadelos, mais fortes e intensos que nunca, e no meio da noite me dei conta de que Olívio e sua família conheciam o rosto do príncipe ...
Vaguei pela vila antes de amanhecer e com a aurora dei com Olívio observando-me de sua janela, ao perceber meu olhar ele abriu a porta e ficou a frente dela, a minha espera. Aproximei-me sem saber o que diria, ele sempre cordial e compassivo, cumprimentou:
- pelo que vejo esqueceu da noite, entre e tome um chá comigo.
Entrei e sentei sem dizer palavra. Ele sentou a minha frente olhou em meus e olhos e falou:
- Serafim, nunca foi da minha conta saber que desgraça o trouxe até nós. O que me importa é a benção que é tê-los conosco, tem ensinado muito a nossos filhos e sempre esteve ao nosso lado...
- Vocês é que sempre foram...
- Serafim, somos amigos e não precisamos de palavras bonitas e nem de respostas. Se estou tocando nisso agora é porque não posso ignorar o quanto ficou abalado com nossa ida ao castelo e quero ajudá-lo. Diga-me o que precisa... como posso fazer isso?
Abaixei a cabeça relutante:
- ... deveríamos partir... eu gostaria de poder lhe contar tudo...
Ele interrompeu-me com um aceno de mão, do mesmo modo que fazia com os filhos quando tentavam justificar uma travessura:
- O passado nunca me importou, conheço seu coração e é o que me basta. Vou lhe dizer o que pensei e não quero que me diga se estou certo ou não. - E foi até a janela permanecendo de costas para mim, com a sensibilidade de não observar minhas reações enquanto falava. - Me perguntei como Valentim se sentiria ao ver o castelo, o príncipe, eles têm quase a mesma idade e crianças sempre se parecem. Assim, achei que ele poderia se ver no príncipe e como toda criança deslumbrada com um mundo novo desejar fazer parte dele. Mas me pareceu que ele não gostou nada daquilo, quase tanto quanto você. Ele ama nossa vila e nós os amamos. Faço qualquer coisa para que permaneça assim. Vocês dois como parte de nossa família.
Meu coração perdeu o peso:
- Você não tem idéia do quanto me ajudou. Valentin quer ficar, mas eu temo... não sei se é melhor a fazer.
- Ir para longe de ser amigos vai aliviar seus tormentos? Parece-me que sofre por coisas que não acontecem, ir para longe vai mudar isso?
- Acho que lugar algum mudará isso.
- Então talvez devesse mudar em você
Sorri para ele:
- tem razão meu amigo, como sempre.
Olívio era assim possuía a sabedoria das pessoas simples que eu nunca tive, mas de alguma forma a transmitiu a Valentim. Retornei a cabana, ao nosso lar, e tive minha última conversa com Valentim:
- Muito bem, será como deseja. Confiarei em sua prudência, mas lembre-se que é perigoso.
- Eu lembrarei, só quero saber de meu irmão, estar por perto.
E deste dia em diante nada mudou em nossas vidas, ao não ser o crescimento e o aperfeiçoamento de Valentim nas artes da guerra. E nos longos cabelos que ele nunca mais deixara cortar acima do ombro. Lutei até conseguir afastar meus tormentos, se o pior viesse eu estaria ali para protegê-lo e tratei de ensiná-lo muito bem a arte da defesa (aulas que muitos aldeões também quiseram e tiveram), tanto que em alguns anos me superou. Ele cresceu e passou a ir ao castelo todas as semanas para ter noticias do irmão. Até então não tive preocupações com Valentin e falávamos da realeza como qualquer aldeão, os chamávamos por seus títulos mesmo que sozinhos, a ponto de que quase esqueci de quem eram.
Meus pesadelos só voltaram quando vieram os rumores de que o príncipe passara a embriagar-se e não havia nada que o rei fizesse que o impedisse. Tornara-se negligente em seus estudos, mas sabia fugir do castelo como ninguém e quase todas as noites o fazia, voltando ao amanhecer ou ao tardar do sol, sempre bêbado. E Valentim começou a se perturbar, a se preocupar e chegou a me questionar se poderia interferir de alguma forma para ajudá-lo.
Então Valentin fez o que estava ao seu alcance, toda a noite ele percorria o longo percurso da vila ao castelo e a distância vigiava o irmão. Enquanto este era carregado ao castelo por seu cavalo Valentim o acompanhava as escondidas até o ver alcançar os portões do reino. Então retornava, às vezes dormia na carroça, exausto, mas faísca era esperto e conhecendo o caminho sempre trazia Valentim de volta.
E por vários meses eu via Valentim sair em sua carroça com meu coração angustiado, Valentin cuidava do irmão a distância o amava e sofria por ele como se tivessem crescido juntos. Voltava entristecido contando como o irmão cada vez mais se afundava no vício e angustiava-se por não poder ajudá-lo.
Houve uma tarde, apenas uma, quando eu não podia mais suportar seu sofrimento, a qual tentei persuadi-lo a ficar. Disse a ele que o que fazia não ajudaria o irmão, e ainda poderia prejudicar a ele. Valentim olhou-me nos olhos e lembrou da historia que lhe contei um dia:
- O irmão não pode salvar o que foi para a torre, mas não o deixou sozinho.
E diante da resposta que Valentim me deu finalmente aceitei o que soube naquela tarde que Valentim conheceu seu irmão, que seus destinos estavam ligados e não havia como separá-los. Minha mente enfim aceitou o que meu coração sempre soubera. Que a Valentim importava ter um irmão e se ele o amara apenas por isso nada os separaria, a menos que o outro não sentisse o mesmo por ele. E me angustiei com este novo pensamento. O príncipe jamais saberia que tinha um irmão, mas ainda assim, naquela noite, enquanto Valentin dizia a Silvestre que ele não poderia acompanhá-lo vi a imagem de dois Valentim se observando com olhares perplexos...
por Adri.n
sábado, 19 de julho de 2008
Riso-canto
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O riso é o canto do homem-pássaro
A criança-pássaro nasce cantando
e como canta!
já o homem-pássaro costuma perder a prática...
Por Adri.n que ainda canta
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Correr, voar e sonhar
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O menino que corria e o viajante que voava
Havia uma pequena aldeia onde as pessoas eram alegres. E o menino corria. Corria com os pássaros enquanto os mais velhos plantavam e colhiam, e corria com as risadas enquanto os mais velhos conversavam no fim de tarde. A vida dos mais velhos era plantar, colher e sorrir e a vida do menino era pular e correr.
Houve o dia que o menino parou, em seu caminho estava um viajante ferido...
........................(cbs).......................
por Adri.n
ainda com medo de voar
domingo, 6 de julho de 2008
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O namorado passou a ligar menos,
dizia que ela tinha de se cuidar mais, sair mais.
Saiu e comprou um espelho,
este a elogiava cada vez que passava.
Terminou com o namorado.
por Adri.n ...
sábado, 5 de julho de 2008
Minha vida com a Imaginação
De mãos dadas com a Imaginação, eu vou!
aaA Imaginação é uma criatura travessa que já salvou minha vida algumas vezes. Agora que estou razoavelmente segura do Instinto Suicida e nos tornamos amigas depois de tantos encontros, passeamos de mãos dadas entre o dela e o meu mundo.
Basta semi-serrar meu olhos e ela guia-me por onde vive.
aaDe manhã, ando pelo asfalto e acompanho o balançar de umas poucas árvores ela logo chega cantando e caminhamos por uma floresta de árvores sem fim - gigantes que abrigam todo tipo de vida.
aaAo retornar para minha casa pego um atalho: uma passarela rústica de madeira construída em cima do rio, Os que não andam com ela só vem esgoto. Mas nós duas adoramos passar por ela, o som do meu tênis sobre a madeira, e o quase flutuar do corpo. Ela cruza meu mundo com o dela, atravesso uma ponte japonesa e quase ouço o som da cascata cristalina, tão próxima que sinto seus pingos em meu rosto e flores perfumam o caminho...
aaHá noite, quando suas energias já estão fracas depois de tanta aventura, nos sentamos em frente à tela mágica e passeio entre minha casa e a de amigos, converso com eles enquanto comem ou descansam e do meu lado corrijo minhas letras. E ela, mais marota, às vezes põe a cabeça na tela, espia e descreve-me o que viu. Meus amigos acenam para ela e mandam-me docinhos de boa noite. Pena não podermos nos tocar... E o beijo, e o abraço só são quentes pelas palavras e pelo riso.
aaQuando vou dormir, já de olhos fechados ela brinca com meus sonhos, incansável e marota, já me conhece bem e sabe o que me agrada. Quando acordo, ela não esta mais por perto, mas não temo; sei que não demora muito para ela voltar basta eu sorrir e brincar com meus pés.
por Adri.n
sempre de bem com a Imaginação