Para o cara mau...
“Haurit aquas cribro qui díscere vult sine libro.”
Provérbio medieval
- Oh Isa, vai lá na janela, olha o vizinho, tá vestido de preto de novo, parece aqueles caras da seita que vimos na tv. Eu sei que era um filme, mas os caras têm que tirar isso de algum lugar. Vai ver fazem o filme pra conseguir mais caras pra seita. Aí o cara liga pro diretor, diz que gostou do filme, eles saem pra tomar café... é isso! vai ver o vizinho viu o filme e ligou pro diretor. Ah pra ele deve ser fácil conseguir o número, vive com essa gente esquisita que não trabalha. Olha a cara dele pra ver se ta parecido com os caras do filme, porque a sua casa é do lado da dele e o meu binóculo ta horrível! Eu sei que ele ta na esquina já, mas quando ele voltar. E o que você tem pra fazer, Isa? A novela? Coloca a tv mais perto da janela, ora!
- Então Isa, viu a cara dele? Eu também não vi ele chegar, mas ouvi o cão da Matilda latir as 23h56, meu binóculo ta ruim e não pude ver nada, mas devia ser ele. Olha lá, ele ta saindo de novo e acho que está com cara de sono. Eu to vendo que ele ta com um agasalho hoje, mas deve ser para disfarça! Ou vai ver é o disfarce da seita, pra eles se reconhecerem na rua, o filme não iria contar essas coisas. Vai lá ver se ele ta com cara de sono! E lê o que ta escrito na roupa dele. Tira o lixo pra rua e olha a cara dele! Eu sei que hoje não é dia do lixeiro, é só tirar o lixo e olhar pra ele. Meia hora depois você finge que lembrou que não é dia do lixo e vai buscar, ora! Vai lá tirar o lixo!
- Viu a cara dele? Tava com cara de sono? E o que tava escrito no agasalho? Se tivermos uma pista podemos ir na policia! Eu vi sim, mas o que é que tem se o moleque levou sua sacola de lixo? Por que não era lixo? A sacola que tinha próximo? Boa! Não quero saber o que tinha, quero saber do vizinho! O quê????? Minha encomenda da revista!!!!!! Corre atrás do moleque!!!! Eu não posso, tenho que olhar o vizinho!!!
por Adrins
em virtudes más
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Primeiro dia de morto vivo
Para Thiago (zumbi?!)
Tive uma noite péssima; calor infernal, ventilador quebrado no meio da noite, aquele cheiro de queimado. Sai à rua, mesmo após o banho, me sentido tostado e derretido. Na segunda esquina uma bicicleta quase me atropelou, o cara gritou “olhe por onde anda!”. Olhei e não vi seu braço direito, fiquei branco. O cara não ter braço tudo bem, mas eu podia jurar que o via sangrando e ele pedalava com se não sentisse nada, a não ser pelo mau humor. Olhei para o outro lado a procura de fôlego e vi uma velhinha sem orelhas e um jovem... Meu deus! O jovem tinha um oco no lugar do cérebro?!
Sentei desnorteado na calçada, ouvi uma voz conhecida “ tá tudo bem?” “cara! Que houve com seus olhos?!” “o quê ?!” ele olhou no retrovisor do carro próximo com se ainda fosse capaz de olhar, eu não via olho algum na face de meu amigo. Mas ele continuava a olhar e me guiar pela rua, preocupado com minha expressão ensandecida. E eu continuava a ver pessoas deformadas, sem partes de seu corpo, algumas sangrando, andando pela rua. Puta merda! Que diabos eu tinha bebido na noite passada?! Não me lembrava de ter bebido, mas poderia confiar em mim depois do que via?
Tomei o café que uma moça de olhos baixos colocou sobre a mesa. Ela tinha o peito aberto por onde eu jurava que via algo espetado numa massa vermelha, o sangue pingava mas o chão continuava limpo. Agradeci ao meu amigo e apressei o passo até a empresa, o deixando para trás pagando a conta. Tentei não olhar para ninguém durante a manhã, me escondia no banheiro e pessoas deformadas vinham perguntar seu eu estava bem, teria rido na cara delas se não estivesse tão apavorado.
No almoço liguei para a Beti, disse que não estava bem “Ah querido, o chefe me mandou ao banco, não vai dar tempo, mas passo na sua casa à noite tá bem? Qualquer coisa me liga”. Tentei almoçar, mas as pessoas sorridentes tinham ferimentos horríveis dos quais nunca pensei ser capaz de imaginar e quantas pessoas com as cabeças sem cérebro meu deus!
Um calmante! Precisava de um calmante, mas parei na frente do balcão. A atendente parecia completamente normal, talvez não, não sei, não consegui reparar. Pelos espelhos da saleta vi um ferimento em minhas costas, enorme, como se tivesse sido feito por um punhal e havia até uns coágulos como se o ferimento tivesse sido feito a muito tempo e fosse constantemente reaberto. Pensei na Beti, disse qualquer coisa à atendente. Acho que comprei comprimidos pra dor de cabeça - ao menos estavam em meu bolso - e voltei para casa. Ligaram do trabalho, vi o número piscando no celular, não atendi. Passei a tarde tentando tocar ou senti o meu ferimento, mas só o via. Bosta de alucinação!
À noite tentei consertar o ventilador sem sucesso, a Beti não atendeu meu telefonema e o cheiro de queimado misturou-se a náusea do ferimento recém exposto em meu peito.
por Adrins
de ferimentos fechados
(e pc que não identifica palavrões, bosta!)
Tive uma noite péssima; calor infernal, ventilador quebrado no meio da noite, aquele cheiro de queimado. Sai à rua, mesmo após o banho, me sentido tostado e derretido. Na segunda esquina uma bicicleta quase me atropelou, o cara gritou “olhe por onde anda!”. Olhei e não vi seu braço direito, fiquei branco. O cara não ter braço tudo bem, mas eu podia jurar que o via sangrando e ele pedalava com se não sentisse nada, a não ser pelo mau humor. Olhei para o outro lado a procura de fôlego e vi uma velhinha sem orelhas e um jovem... Meu deus! O jovem tinha um oco no lugar do cérebro?!
Sentei desnorteado na calçada, ouvi uma voz conhecida “ tá tudo bem?” “cara! Que houve com seus olhos?!” “o quê ?!” ele olhou no retrovisor do carro próximo com se ainda fosse capaz de olhar, eu não via olho algum na face de meu amigo. Mas ele continuava a olhar e me guiar pela rua, preocupado com minha expressão ensandecida. E eu continuava a ver pessoas deformadas, sem partes de seu corpo, algumas sangrando, andando pela rua. Puta merda! Que diabos eu tinha bebido na noite passada?! Não me lembrava de ter bebido, mas poderia confiar em mim depois do que via?
Tomei o café que uma moça de olhos baixos colocou sobre a mesa. Ela tinha o peito aberto por onde eu jurava que via algo espetado numa massa vermelha, o sangue pingava mas o chão continuava limpo. Agradeci ao meu amigo e apressei o passo até a empresa, o deixando para trás pagando a conta. Tentei não olhar para ninguém durante a manhã, me escondia no banheiro e pessoas deformadas vinham perguntar seu eu estava bem, teria rido na cara delas se não estivesse tão apavorado.
No almoço liguei para a Beti, disse que não estava bem “Ah querido, o chefe me mandou ao banco, não vai dar tempo, mas passo na sua casa à noite tá bem? Qualquer coisa me liga”. Tentei almoçar, mas as pessoas sorridentes tinham ferimentos horríveis dos quais nunca pensei ser capaz de imaginar e quantas pessoas com as cabeças sem cérebro meu deus!
Um calmante! Precisava de um calmante, mas parei na frente do balcão. A atendente parecia completamente normal, talvez não, não sei, não consegui reparar. Pelos espelhos da saleta vi um ferimento em minhas costas, enorme, como se tivesse sido feito por um punhal e havia até uns coágulos como se o ferimento tivesse sido feito a muito tempo e fosse constantemente reaberto. Pensei na Beti, disse qualquer coisa à atendente. Acho que comprei comprimidos pra dor de cabeça - ao menos estavam em meu bolso - e voltei para casa. Ligaram do trabalho, vi o número piscando no celular, não atendi. Passei a tarde tentando tocar ou senti o meu ferimento, mas só o via. Bosta de alucinação!
À noite tentei consertar o ventilador sem sucesso, a Beti não atendeu meu telefonema e o cheiro de queimado misturou-se a náusea do ferimento recém exposto em meu peito.
por Adrins
de ferimentos fechados
(e pc que não identifica palavrões, bosta!)
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