Minha amiga não toma café, e
seria sobre nossos falsos cafés que eu poderia escrever; os convites da força
do habito. Do modo que ela sempre aceita o convite de tomar um café, ainda que
nunca o tome. Mas naquele dia andamos por uma rua pouco iluminada e entramos em
uma padaria pouco movimentada, não às moscas por questões de higiene... ou por
conta de um morcego?!
Entrar em uma padaria e
ouvir o bater de assas de um morcego, ainda que só esteja escurecendo é
sentir-se assombrado ou em assombro. De modo que esqueço as etimologias do café
e penso na biologia do morcego.
As atendentes transfiguraram suas
simpatias em faces brancas, e diante de seus temores e de minha segurança transformo-me
na dona do território, elas atendem a tudo o que digo diante do olhar de
aprovação de minha amiga. Apagamos as luzes para o pequeno alado seguir as
luzes de fora, ele bate no vidro da janela. Sei que um morcego ao chão é um
morcego morto, incapaz de iniciar um vôo sem um apoio, então o acomodo em uma sacola e a suspenso na janela.
Ele voa a procura de outras luzes ofuscantes em uma cidade cheia delas, para
debater-se em outros lugares. Talvez tenha aprendido sobre as vidraças, talvez
morra na seguinte.
As duas moças voltam a
respirar, o mundo seguro novamente, nenhuma gota de sangue perdida ou
derramada. Explico que ele poderia estar atrás das cerejas do bolo, mas não
saberia o que fazer com pescoços. Minha amiga atesta meu conhecimento sobre o
pequeno animal e elas perguntam sobre minha formação. Mas uma vez declarado que
estudei letras não biologia toda a minha credibilidade está perdida. Os olhares
são de desapontamento e incredibilidade. Há necessidades de mistérios na frágil
linha entre o conhecimento e o a loucura. Diagnóstico assegurado apenas com
papéis rigidamente preenchidos e de linguagem elaborada.
Vivemos em um mundo inteiro
que gira em torno de papéis; é verdade o que está escrito, o sagrado papel
autodestrutível as inverdades. Tente registrar uma mentira que ele explode. Um
mundo inteiro que esqueceu das descobertas empíricas dos primeiros filósofos
tão guiados de sentimentos de assombro e desprovidos de letras. As mortes dos
homens da caverna que deixam de ver sombras; é preciso dizer o que as pessoas
esperam. A segurança dos estudiosos que
recriam o que devoraram sem nunca sentir como verdade ou mentira.
Uma vida tão de morcego, de
ponta cabeça e de muitas luzes que mais confundem do que guiam. E uma vez
perdidos ou quebramos a vidraça ou ela parte a nossa cabeça.
por Adrins em voos