- Você poderia cortar os galhos da sua árvore?
O vizinho se aproxima do outro até o limite do muro alto:
- Bom dia! o que disse?
- Sua árvore. As folhas dela estão sujando meu quintal.
O vizinho olha as britas através do muro alto, sufocando um pensamento
- Folhas... Ah sim, as flores do ipê!
O outro pensa,
E por fim diz:
- Certo. Passei a tarde de ontem limpando meu quintal e hoje está tudo assim de novo, você poderia cortar o galho?
- Sim. Posso, mas ainda assim o vento pode carregar algumas flores...
- E cortar a árvore?
" Cortar meu ipê? Vou plantar um pé de manga pra cheirar no seu quintal..."
o vizinho estica o pescoço a contragosto para ver o verde-amarelo do outro:
- Sim, estou vendo...
- Tenha um bom dia!!!
Grita o outro antes de seguir para seu trabalho,
e vai sorrindo para as flores sob seus pés no gramado e em sua calçada antes de caminhar no cimento frio.
" Que mal ha em ter um pouco de vida nessa cidade tão sem terra e cor?!"
O vizinho despede-se com um braço meio levantado, sem olhar pra trás, evitando olhar sua brita, mas logo caminha sobre flores na calçada, mal humorado, as pressas para chegar ao lado limpo. Vê o varredor na outra esquina, quando voltar o serviço dele já terá desaparecido.
Alguns pássaros cantantes pousam sobre os galhos amarelos. A rua povoa-se com o frenesi de carros de todas as cores.
Um comentário:
Poxa Adri, que lindo texto.
Nunca havia parado pra pensar nesse assunto, mas veja que atitude mesquinha não é?
Podia descolar esse texto pra gente publicar na cooperativa um dia desses...rs
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